A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

REBELDIA COM CAUSA

ZERO HORA 28 de junho de 2013 | N° 17475

Fábio Ostermann*


Inicialmente motivada pelo aumento no preço das passagens, a onda de protestos que vem tomando as ruas das maiores cidades brasileiras tornou-se algo maior. Chegamos a um cenário interessante, no qual as manifestações não parecem ter mais uma única causa ou reivindicação específica.

Fica clara a insatisfação generalizada em relação ao atual cenário do Brasil. Este país tão cheio de potencial, do qual o mundo todo sempre esperou muito, é líder em violência, corrupção e descaso na prestação de serviços essenciais à população. Motivos para protestarmos não faltam.

O problema é que sair à rua para protestar “contra tudo isso que está aí” não muda nada. Traz aos manifestantes, é claro, a vã sensação de estarem “fazendo história”, de estarem “mudando o mundo”. Em meio ao clamor público, pode-se até substituir o político A pelo político B, mas, ao fim do dia, as mesmas instituições reprodutoras de injustiça, iniquidade e opressão seguirão lá. Isso porque apesar da energia e das boas intenções, a grande maioria dos manifestantes não parece se importar em compreender os fenômenos políticos e econômicos responsáveis pelo estado de crise permanente que vive o país.

Modificar isso passa obrigatoriamente por uma mudança de atitude. Como podem os brasileiros desprezar tanto seus políticos e, ainda assim, seguirem demandando uma presença cada vez maior do Estado em suas vidas?! Quanto maior a atuação do Estado e da “sociedade política”, menos sobra para as pessoas.

O caminho para mudar “isso tudo que está aí” é longo e bem mais tedioso e menos romântico do que sair às ruas com amigos gritando palavras de ordem sob a sensação de se estar “mudando o país”. A mudança passa, necessariamente, por uma compreensão mais clara da lógica da política. Queremos realmente que pessoas que não nos conhecem e claramente não têm tanto interesse por nossos problemas decidam tantas coisas em nosso lugar? E nós pagando seus (altos) salários ainda por cima?!

As manifestações têm o grande mérito de tirar nossa classe política da sua zona de conforto. Uma sociedade livre deve ter controle sobre seus representantes, não permitindo nunca o contrário. Mas para que alcancemos mudanças realmente significativas e duradouras, é fundamental a mudança no clima de ideias predominante em nossa sociedade. Enquanto a maior parte da população seguir aceitando passivamente a ampliação da abrangência do Estado sobre a sociedade, nossas esperanças seguirão nas mãos da classe política. E seguiremos sendo o “país do futuro”.

*CIENTISTA POLÍTICO

Nenhum comentário: