A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 30 de junho de 2013

QUAL BOLHAS DE SABÃO


ZERO HORA 30 de junho de 2013 | N° 17477


Percival Puggina*



Volta e meia, anos a fio, eu criticava, aqui, a péssima gestão federal dos negócios públicos. O governo ia mal nas coisas importantes. E o que ia bem lhe caía no colo de presente. Presente chinês. O gigante oriental acordara e arrancava o Brasil de seu berço esplêndido. Quanto ao resto segurança, responsabilidade fiscal, probidade, educação, saúde, infraestrutura, tecnologia, relações exteriores, as coisas iam mal. Muito cacarejo publicitário e pouco ovo.

Nós, os poucos que expúnhamos com objetividade a situação nacional, exercíamos tarefa resignadamente inglória. O marketing do governo trovejava informações que nos contradiziam. Afrontávamos a opinião majoritária. Sabíamos que distribuir dinheiro não resolve os problemas nacionais porque o Brasil não é um programa de auditório! Mas o Planalto festejava ao menos um plano mirabolante e bilionário por semana. Até a mídia mundial comprava por bom o discurso oficial! As oposições, ora, as oposições! Primeiro, Lula lhes bateu a carteira ao fazer seu o programa de governo do FHC. Depois, quando Lula passou a sacrificar a austeridade fiscal em favor das reeleições petistas, instalou-se a chamada Brasilha da Fantasia, ou a Fachada de Prosperidade (nas palavras do Financial Times). Mas a oposição política formal, já então, arquejava seu desânimo em meia dúzia de vozes, se tanto, no Congresso Nacional. Enfim, nossa trincheira era tão despovoada, que se um gritasse o outro não ouviria. E o petismo ainda nos chamava de golpistas.

Pois eis que o povo sai às ruas. Os satisfeitos do Bolsa Família e do Bolsa Louis Vuitton ficam em casa. Entende-se. Entendem-se, também, os motivos pelos quais os grupos radicais que acionaram a alavanca de partida foram para a marginalidade quando o povo, com suas camisas brancas, tomou conta do pedaço. Assistimos a uma surpreendente apropriação pela cidadania de algo que se iniciou em mãos erradas. Com raras exceções, a multidão nas ruas repete o que vínhamos dizendo. Claro, há os paus-mandados que se infiltram e tentam desviar o foco para cima dos governos não petistas; há os que conscientemente usam a violência para fins políticos e há os que se aproveitam das vidraças quebradas para sua atividade criminosa. A multidão nas ruas embasbacou dois grupos: os detentores de poder e os comentaristas, ingênuos ou militantes da causa, que há anos recebiam os resultados das pesquisas de satisfação como prova suficiente de que tudo ia bem. Pesquisas de satisfação, senhores, têm a ver com mercado. A realidade nacional precisa ser aferida em outras fontes, e tem a ver com o futuro do país em horizontes de curto, médio e longo prazos.

Rudyard Kipling perguntou certa vez num poema: “O que podem conhecer sobre a Inglaterra os que só conhecem a Inglaterra?”. Pois o brasileiro médio sempre se pareceu um pouco com esses ingleses de Kipling. Nos últimos anos, porém, com o dólar barato, milhões de brasileiros saíram a conhecer o mundo. E conheceram melhor o Brasil... Essa massa, da qual Lula se considera santo benfeitor, pôde fazer comparações e concluir que, aqui, exceto os luxuosos palácios do poder, tudo o que é público está em frangalhos. Que aqui, impostos coletados em percentuais de Primeiro Mundo se desperdiçam no supérfluo. E que o restante se entrega ao Submundo, sob zelo da mais irretratável impunidade. Ilusões publicitárias são como bolhas de sabão.

*ESCRITOR

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