A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 22 de junho de 2013

AÇÃO DIRETA


Quando a desilusão política se combina com dificuldades econômicas e sociais, explode a insatisfação


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O GLOBO
Atualizado:22/06/13 - 0h00


Estou neste momento no Brasil para o nascimento do meu quarto neto, Luiz Felipe. O garotinho nasce num momento conturbado da vida nacional. Eis que por toda a parte irrompem manifestações iradas. Assisti a tudo, estarrecido, pela televisão.

Todo mundo foi pego de calça curta — políticos e autoridades, sociólogos e politólogos, economistas e jornalistas. Como disse Keynes certa vez, “o esperado nunca acontece; é o inesperado sempre”. Ninguém, que eu saiba, antecipou a escala das manifestações. Apesar da surpresa geral e unânime, não faltam explicações, análises, teorias. Aqui estou neste momento improvisando as minhas.

Na verdade, tenho apenas uma e solitária hipótese: as manifestações de rua no Brasil, a exemplo de episódios similares em outros países nos anos recentes, traduzem um colapso da confiança na democracia. O cidadão comum sente-se cada vez menos representado pelos partidos, pelos políticos e pelos governos. No Brasil, como em outros países, as manifestações não são contra determinadas correntes partidárias ou a favor de outras. Se entendi bem, o brasileiro vai à rua contra “tudo que está aí”.

A desilusão com a democracia representativa é muito disseminada – mesmo em países com larga tradição democrática e instituições supostamente sólidas e experimentadas. Quando a desilusão política se combina com dificuldades econômicas e sociais, explode a insatisfação.

Já cabe perguntar se a palavra democracia não deveria ser sempre aspeada. “Governo do povo, pelo povo e para o povo”, na célebre definição do maior presidente dos Estados Unidos, a “democracia” reduz-se cada vez mais a um conjunto de rituais vazios de conteúdo democrático.

Para que votar? — pergunta o cidadão. E com certa razão. O mercado domesticou a urna. O eleitor vota, o político se elege, mas o Poder Econômico dá as cartas antes, durante e principalmente depois das eleições.

O dinheiro sempre mandou, não há dúvida. Mas, nos tempos recentes, manda como nunca. A turma da bufunfa é a face oculta, ou nem tanto, dos poderes eleitos. Estes fazem, não raro, mera figuração. Nos bastidores, o bufunfeiro exerce sua insidiosa influência.

Uma das razões é o custo gigantesco das campanhas políticas. Sem apoio da bufunfa, nenhum partido, nenhum candidato é competitivo. Em uma palavra: a política foi colonizada pelo dinheiro. E a “democracia” se transfigurou em plutocracia.

Como espantar-se se um número cada vez maior de “eleitores” prefere a ação direta? Para citar Lincoln uma vez mais, “pode-se enganar alguns o tempo todo, todos por algum tempo, mas não se pode enganar a todos o tempo todo”.

Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais dez países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal

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