A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

É POR DIREITO, E NÃO POR CENTAVOS


*Salesio Nuhs


As manifestações nas últimas semanas em várias cidades do Brasil consolidaram um movimento de reivindicação legítimo e suprapartidário. A mobilização difusa, sem uma pauta delimitada, é sinal de descontentamento generalizado, com os rumos do país e a fragilidade das instituições públicas.

O descaso com saúde, educação e a falta de investimentos em segurança pública provocou um desencanto na população, que mostrou seu desejo de participar dos debates sobre a destinação do dinheiro público arrecado por meio de tributos. O movimento, que começou com um apelo estudantil pela redução da tarifa dos transportes coletivos, ganhou as principais cidades do Brasil, com reflexo no exterior, e tornou-se um expoente do início de uma concepção do povo, em busca de participação na gestão pública. O povo está mostrando a sua força!

Esse processo de discussão e participação pela sociedade, em busca dos seus direitos, pôde ser percebido pela ultima vez em 2005, quando vimos manifestações em razão do referendo sobre o comércio de armas de fogo. A população foi às ruas para declarar seu posicionamento em favor do direito a legítima defesa, em razão da proibição do comércio de armas no Brasil.

Naquela ocasião, a população se manifestou também de forma ordeira e pacífica, não cedendo às pressões que queriam tirar o direito do cidadão de adquirir uma arma de fogo, para sua proteção, de sua família e de seu patrimônio. Nas urnas e com grande vantagem, os brasileiros escolheram não abrir mão desse direito. Mais de 60 milhões votaram a favor da posse de arma, e nem por isso existem 60 milhões de armas nas mãos de brasileiros, ou seja, votaram contra a perda do direito.

Infelizmente, o governo federal, por meio do excesso de burocracia e falta de estrutura do órgão responsável, impede o cidadão brasileiro de exercer o seu direito a legítima defesa. São estas atitudes totalmente antidemocráticas e desrespeitosas que acabam por levar a população brasileira a estas manifestações.

Cansado de ver seus direitos negados, o país experimenta um furor em defesa dos direitos constitucionais adquiridos, o que garantiu apoio popular aos manifestantes. De fato, o país não experimentava uma mobilização tão grande e organizada nos últimos anos. O recado está dado, a população não vai tolerar o sucateamento de serviços públicos essenciais e não vai permitir sanções aos direitos que foram conquistados, como o de legítima defesa.

O legado das manifestações atuais ainda está em construção e é impossível prever quais serão seus desdobramentos, mas é inquestionável seu valor para a construção de um país que respeita a democracia. Violentar a população tirando seu direito ao transporte coletivo inclusivo, de qualidade e com preço justo, a inexistência de um sistema de saúde humanizado e a total falta de um programa para a Segurança Pública, não são pautas vazias. Ao contrário, a defesa destes direitos tornou a sociedade mais politizada, o que representa uma evolução. Em mais uma oportunidade, o brasileiro mostrou que não será omisso.

A capacidade de mobilização e o modo com que a sociedade passou a encarar seu poder podem mudar a forma de pensar o país. A lista de reivindicação é enorme e ouvir o que a população tem a dizer vai mudar a forma de fazer política no país. Ouvir a sociedade é estabelecer um diálogo com o futuro e respeitar sua vontade representa uma evolução da democracia.


*Salesio Nuhs é presidente da Associação Nacional de Armas e Munições (Aniam)


Mandada por Mariana Gonçalves P. do Nascimento

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