LUCAS MARÓSTICA*
Os indignados brasileiros estão nas ruas. São manifestações de norte a sul do Brasil contra o aumento das passagens, por um transporte público de qualidade e contra a criminalização dos movimentos sociais. Em Porto Alegre, são empresas de ônibus que operam há mais de 20 anos sem licitação, que aumentam a tarifa em média o dobro da inflação e que, segundo relatório do Tribunal de Contas do Estado, deixam mais de 10% da frota reserva dos ônibus parada nas garagens. Pra trabalhar, pra estudar, o fato é que ninguém mais aceita andar feito sardinha enlatada, passar horas à espera nos terminais e pegar um ônibus precário pagando uma das passagens mais caras do Brasil.
Acertam os que dizem que os motivos da indignação vão para além do preço da tarifa. É evidente. Na Capital, temos os recentes cortes de árvores, em meio à crise ambiental. A falta de moradias nas periferias aliada à remoção de inúmeras famílias em benefício das obras da Copa do Mundo 2014. O trânsito caótico é resultado da falta de política no investimento de meios de transporte alternativo e o incentivo ao consumo de carros através das isenções de impostos promovidas pelo governo federal. A privatização dos espaços públicos que transformou o Largo Glênio Peres e o Zumbi dos Palmares em estacionamento, que faz com que manifestações artísticas, políticas e culturais tenham de ser aprovadas ou não pela prefeitura municipal. O investimento em tecnologias militares para a dispersão de manifestações, em detrimento aos baixos orçamentos em áreas sociais estratégicas como saúde e educação.
A incapacidade dos governantes de lidar com as mobilizações fez com que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), oferecesse o aparato repressor do Exército brasileiro para reprimir os protestos Brasil afora. Em São Paulo, a polícia do governador Geraldo Alckmin (PSDB) vem recebendo os manifestantes sob uma chuva de balas de borracha e gás lacrimogêneo. Os que ocupam as ruas são tratados como criminosos e baderneiros enquanto aqueles que desviam quantias estratosféricas dos cofres públicos, que enchem de ilusões e promessas a população brasileira, ousam ridicularizar e reprimir as manifestações populares, tão legítimas diante de tanta impunidade e problemas mal resolvidos.
A juventude brasileira voltou a sonhar. Aprendemos com os jovens chilenos em defesa pela educação pública, com os egípcios que ocuparam a Praça Tahrir por democracia, com os indignados do Ocuppy Wall Street às praças da Espanha e de Portugal, e agora os que se levantam na Turquia. Ousamos lutar e ousamos vencer. “Desculpem o transtorno, estamos mudando o país.” *Do Coletivo Juntos, integrante do Bloco de Luta pelo Transporte Público
*DO COLETIVO JUNTOS, INTEGRANTE DO BLOCO DE LUTA PELO TRANSPORTE PÚBLICO
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