A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 22 de junho de 2013

FIFA TENTA BLINDAR COMPETIÇÃO

URUGUAI X NIGÉRIA

BRASIL X MÉXICO

ZERO HORA 22 de junho de 2013 | N° 17469


COPA DAS CONFEDERAÇÕES

A Fifa e as seleções visitantes não tinham como ficar alheias aos protestos que sacodem o Brasil. Ontem, diante do rumor de que a Copa das Confederações poderia ser interrompida, a entidade máxima do futebol emitiu um comunicado oficial: “Até esta data, nem a Fifa nem o Comitê Organizador Local nunca discutiram qualquer possibilidade de cancelamento”. Também ontem, os correspondentes do Grupo RBS conversaram com representantes das delegações de Itália, Japão e Uruguai – todos desconsideram a hipótese de abandonar o torneio, mas os europeus admitiram: em Salvador, receberam a recomendação de não sair do hotel.

AFifa não esperava um evento perfeito, mas a situação encontrada no Brasil é pior do que qualquer cenário imaginado. Ainda assim, enquanto ônibus ardem em chamas e pedras estilhaçam vidros de hotéis, a entidade desmentiu rumores de que a Copa das Confederações poderia ser cancelada.

Não se contesta o caráter pacífico da esmagadora maioria dos manifestantes, mas os protestos que tomaram 25 capitais brasileiras – entre elas, as seis cidades-sedes da competição teste para a Copa do Mundo – apavoraram cartolas da Fifa e seleções estrangeiras. Especialmente por causa dos vândalos, que maculam os atos públicos. E há também os reflexos na organização do evento, como o bloqueio de vias de acesso aos estádios.

– Ninguém, nem a mídia, nem o Comitê Organizador Local (COL), nem a Fifa esperava algo como isso – disse ontem o porta-voz da entidade, Pekka Odriozola.

O porta-voz afirmou também que não recebeu pedido de nenhuma seleção para deixar a competição em virtude dos protestos. Mas, segundo apurou o jornal Folha de S.Paulo, duas equipes procuraram a entidade para expressar preocupação com a segurança de familiares dos atletas. Um representante de uma delas chegou a manifestar o desejo de abandonar a competição, alegando que futebol não se joga em “praça de guerra”.

Ontem, o ex-jogador e hoje deputado federal Romário (PSB-RJ) publicou vídeo na internet para apoiar os protestos e atacar a Fifa: “O verdadeiro presidente do país hoje se chama Fifa. Ela chega aqui e monta um Estado dentro do nosso Estado.”

Apesar de a Fifa estar presente em diversos cartazes de manifestantes (como “Quero hospital padrão Fifa”) e de haver críticas ao alto investimento no torneio (com gritos como “Da Copa eu abro mão por mais dinheiro para saúde e educação”), a entidade busca se dissociar das insatisfações.

– A competição está acontecendo. Em todas as nossas pesquisas há apoio da população para o país sediar a Copa. A Copa é benéfica para catalisar investimentos – disse o diretor de comunicação do COL, Saint-Clair Milesi. A última pesquisa foi feita em março.

Na quinta-feira, em Salvador, dois micro-ônibus usados pela Fifa foram apedrejados em frente ao hotel onde seus funcionários estão hospedados. O estabelecimento também foi apedrejado. Mas Pekka Odriozola minimizou o fato:

– O ônibus estava vazio. Outros carros também foram atacados.

Ele negou ainda que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, tenha saído do país em razão das manifestações. Blatter viajou à Turquia para o Mundial Sub-20 e deve retornar no dia 26.

– A agenda do presidente muda constantemente – comentou o porta-voz.

Para hoje, mais um protesto está programada em Salvador, mas os planos anunciados são de que o trajeto não inclua a região da Arena Fonte Nova, onde Brasil e Itália se enfrentam às 16h.


Itália: “Nos proibiram de sair do hotel”

RODRIGO MÜZELL | ENVIADO ESPECIAL/SALVADOR

O técnico da Itália, Cesare Prandelli, garantiu na tarde de ontem que a seleção não cogita deixar o Brasil. Mas a rotina mudou depois do aumento de público nas manifestações e do apedrejamento de veículos da Fifa em Salvador:

– No Rio e em Recife, pudemos visitar a cidade sem problemas. Aqui, nos proibiram de sair do hotel. Mas não há nenhum problema.

Ele afirmou que ninguém da Federação Italiana pediu à Fifa o cancelamento do torneio, e disse que não há intranquilidade entre os jogadores. O mais famoso deles, Mario Balotelli, inclusive furou, de manhã, a determinação de permanecer no hotel e saiu a passear pelas ruas de Salvador. Durante meia hora, acompanhado de policiais, deu autógrafos e falou com torcedores. À imprensa, disse, com a marca de seu estilo irreverente:

– Não tenho medo.

Essa voltinha acabou fazendo o técnico Prandelli se enfiar em uma saia justa. Para explicar a exceção, disse não ver problema que Balotelli tivesse saído do hotel porque ele tinha “uma cor diferente da nossa” – dando a entender que era negro como a maior parte da população de Salvador.

– Foi uma brincadeira – disse Prandelli. – Balo quer se sentir melhor, mais próximo às pessoas.




Uruguai: “Nunca pensamos em desistir”

LUIZ ZINI PIRES | ENVIADO ESPECIAL/RECIFE

O Uruguai tinha bons motivos na semana passada para reclamar e tirar o time de campo. No dia 13, quando chegou a Recife, encontrou uma chuva de dois dias e nenhum campo para treinar. Precisou exercitar-se numa academia.

Em Salvador, no começo da semana, sofreu com a greve dos funcionários do hotel. Voltou a Pernambuco ontem e foi castigado pela chuva outra vez. Uma piada entre os recifenses diz que o governo estadual vai convidar a seleção uruguaia para jogar no sertão nordestino. É chuva na certa.

Antes da estreia contra a Espanha, o Uruguai bateu na porta da Fifa, que era próxima, pois as duas delegações dividiam andares próximos no hotel. O técnico Oscár Tabárez queixou-se, o capitão Diego Lugano também.

– Mas nunca pensamos em desistir – sustentou ontem o assessor de imprensa Matias Faral, que é casado com uma gaúcha de Porto Alegre.

Uma fonte da Fifa disse não acreditar que um filiado desista de um torneio oficial em andamento sem o ok da entidade. Ele garante que a punição seria pesada e exemplar. A seleção receberia uma larga suspensão, estaria fora de qualquer competição e deixaria de disputar eliminatórias da Copa. Clubes também poderiam sofrer sanções.



Japão: “Alguns colegas até foram passear”

MARCOS CASTIEL | ENVIADO ESPECIAL/BELO HORIZONTE

Técnico do Japão, o italiano Alberto Zaccheroni lamentou as notícias que vê sobre protestos no Brasil e se disse confuso:

– Tenho dificuldade em entender o que está acontecendo. O Brasil é muito grande e complexo, mas espero que tudo se resolva e que a competição siga sem problemas.

O meia Endo se mostrou mais tranquilo:

– Me sinto seguro no hotel. É um lugar muito calmo, alguns companheiros até saíram para passear nas ruas sem problema algum.

Os japoneses, sempre tão obedientes, descumpriram uma solicitação da Fifa ao deixar o hotel como confidenciou Endo. Para prevenir qualquer risco em relação às manifestações populares, a orientação era não sair da zona de segurança.

A medida, pelo menos na chegada, se mostrou exagerada. Na noite de quinta-feira, apenas um torcedor japonês aguardava a delegação no Hotel Ouro Minas, localizado na Avenida Cristiano Machado, uma das mais movimentadas de Belo Horizonte. O saguão do hotel teve segurança reforçada em relação à semana passada, quando lá estava o Taiti. Há pelo menos o dobro de policiais militares e de seguranças no entorno.



RODRIGO MÜZELL


Teste forte

Boa parte do desconforto vivido pelas seleções da Copa das Confederações não tem a ver com os protestos. Os confrontos entre polícia e manifestantes e o ônibus quebrado da Fifa foram o ápice de uma semana pouco tranquila.

O Uruguai enfrentou um rali para chegar a seus campos de treino em Recife, a Espanha teve jogadores furtados no hotel, a mulher do goleiro Julio César, Suzana Werner, foi assaltada em Fortaleza. Na quinta-feira, o caldo entornou, e a preocupação passou a existir: a Itália fechou-se no hotel, o governador baiano Jaques Wagner reforçou a segurança para o Brasil x Itália de hoje. A Fifa apressou-se a negar a possibilidade de cancelar a Copa das Confederações, mas, se discutia um plano B em outro país, é porque levou a sério o vácuo de ordem que o governador baiano tentava suprir ontem.

Os dias atuais são um termômetro para tranquilizar – ou preocupar de vez – as seleções e a Fifa. E darão uma mostra da maturidade dos brasileiros para fazer com que um grande evento conviva com manifestações democráticas – em 2014, ano de eleições, teremos ainda mais seleções, no dobro de cidades-sede. A Copa das Confederações foi criada como um teste para o Mundial, e está sendo uma prova de fogo.


JOGOS EM CAMPOS DE GUERRA - Protestos afetaram quatro partidas da Copa das Confederações

URUGUAI X NIGÉRIA - Confronto entre ativistas e policiais prejudicou o acesso da torcida à Arena Fonte Nova na quinta-feira. Torcedores do Uruguai foram assaltados ao passar pelo protesto em Salvador. Manifestantes incendiaram um ônibus depois que a polícia lançou bombas para impedi-los de chegar ao estádio.

BRASIL X MÉXICO - Em Fortaleza, quarta-feira, dezenas de torcedores desistiram de assistir ao jogo na Arena Castelão, após a polícia usar spray de pimenta em um confronto com manifestantes (que arremessavam tijolos contra os agentes) e duas avenidas de acesso ao estádio serem bloqueadas.

NIGÉRIA X TAITI - Enquanto a Nigéria goleava no Mineirão, em Belo Horizonte, na última segunda-feira, milhares de manifestantes se aproximavam do estádio. A polícia usou balas de borracha para dispersá-los, acirrando os ânimos. A Fifa mandou cancelar um jantar do governo nigeriano à seleção de seu país, por medo de que o ônibus da delegação se encontrasse com os ativistas.

BRASIL X JAPÃO - Antes do jogo de abertura, houve confrontos entre manifestantes e policiais no entorno do Mané Garrincha, em Brasília. Dentro do estádio, a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, foram vaiados.

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