A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

INSATISFAÇÃO REFLETIDA EM PROTESTOS E VAIAS

ZERO HORA 17 de junho de 2013 | N° 17464

TENSÃO NACIONAL


Nos últimos cinco dias, o país foi tomado por manifestações nas ruas e em frente a estádios de futebol. A vaia à presidente Dilma Rousseff no jogo entre Brasil e Japão, no sábado, trouxe um ingrediente novo a esse cenário de descontentamento.

Os gritos de gol, na largada da Copa das Confederações, vieram acompanhados por ruídos de natureza nada festiva: palavras de ordem, estouros de bomba e vaias à presidente Dilma Rousseff na abertura do evento.

A ruidosa sonoplastia política tem origem em manifestações com públicos e propósitos diferentes, mas, segundo especialistas, refletem um sentimento de insatisfação nacional e tendem a reforçar umas às outras.

Estádios de futebol costumam ser ambientes cruéis para pernas-de-pau, mas também para líderes políticos. Assim foi na inauguração do Maracanã, na década de 1950, ou quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu ao mesmo local para a abertura dos Jogos Pan-Americanos, em 2007. Os apupos foram tão intensos que o petista desistiu de anunciar ao microfone o início das competições. As vaias enfrentadas por Dilma na tarde de sábado, porém, somam-se a uma série de protestos que vêm sacudindo o país.

Antes dos gritos contra a presidente, a música emitida pelos alto-falantes no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, já havia sido intensificada em alguns decibéis para abafar os estouros das bombas utilizadas pela polícia para controlar quem protestava do lado de fora contra os bilhões de reais aplicados para o país receber as competições da Fifa. Ontem, no entorno do Maracanã, novo confronto envolveu manifestantes contrários aos gastos e em defesa da redução nas tarifas de ônibus. Nas semanas anteriores, grupos se reuniram nas ruas das principais capitais do país para exigir passagens mais baratas e, mais recentemente, condenar a repressão policial em manifestações públicas.

Por que, então, protestava quem estava do lado de dentro do Mané Garrincha, e qual a relação com a recente onda de inconformidade que tomou as ruas de várias cidades? Para a cientista política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria Izabel Noll é preciso lembrar que o público no interior do estádio pagou centenas de reais pelos ingressos e representa um estrato social mais abastado, com prioridades específicas.

– Essa classe média consolidada não teve ganhos tão significativos com a estabilidade econômica. Já tinha casa própria, carro. A vaia deixa claro que há uma insatisfação no ar – avalia Maria Izabel.

Inconformidade inclui várias bandeiras

Essa insatisfação inclui o desconforto com a corrupção, a ameaça da inflação, carências em saúde, educação e segurança pública, além da elevada carga tributária brasileira – tema bastante caro para as classes média e alta. Embora os protestos de dentro e de fora do estádio tenham diferenças, para Maria Izabel todos traduzem inconformidade popular e tendem a se reforçar mutuamente em um ambiente geral de contestação.

– Como há um descontentamento genérico em relação aos governos, não só ao governo Dilma, há um processo de retroalimentação entre esses protestos todos – analisa.

Para o cientista político e diretor do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais (InPro), Benedito Tadeu César, os apupos a Dilma não devem ser superdimensionados.

– Lula também foi vaiado, e a aprovação da presidente ainda é superior à de Lula e à de FH nos mesmos períodos de governo. Há sempre uma parcela de descontentes – pondera o cientista político.

Para César, a insatisfação popular explica os fenômenos verificados dentro e fora dos estádios, mas o grau de descontentamento nas ruas é maior do que o vislumbrado no Mané Garrincha na tarde de sábado.

– As pessoas estão lá no estádio para um evento esportivo, não para ficar homenageando político. Em relação aos protestos nas capitais, são deflagrados por um somatório de coisas, como a inflação e o comportamento das polícias militares – avalia.

Os próximos dias deverão mostrar o que seguirá soando mais alto no país: os gritos de gol, as bombas ou as palavras de ordem.

MARCELO GONZATTO


Planalto nega mal-estar e oposição se anima



A expressão fechada da presidente Dilma Rousseff no jogo de abertura da Copa das Confederações, sábado, não poderia ser diferente. Há uma semana, a presidente viu sua popularidade cair oito pontos percentuais, de 65% para 57% segundo o Datafolha. No sábado, foi a vez de ouvir, ao lado do presidente da Fifa, Joseph Blatter, a vaia de boa parte dos 67 mil torcedores que foram ao estádio nacional Mané Garrincha para assistir à partida entre Brasil e Japão. E não foi uma única vez. Foram três manifestações contrárias: quando o nome de Dilma foi anunciado, quando a presidente foi citada por Blatter e quando ela declarou oficialmente aberta a competição no país.

O Planalto negou qualquer mal-estar com as manifestações. A ordem entre os governistas, inclusive, é não fazer alarde sobre o episódio. A Zero Hora, assessores presidenciais sustentaram que os torcedores que compareceram ao Mané Garrincha queriam assistir à partida de futebol e, portanto, qualquer autoridade seria vaiada. A avaliação também leva em conta que a maior parte do público presente pertence a classes econômicas altas – que pagaram caro pelos ingressos – e que tenderiam a rejeitar o governo do PT.

– Não é reflexo de nenhuma insatisfação popular, até porque não tinha populares ali – avaliou um interlocutor da presidente.

Integrantes do governo consideram que a demora para a retirada dos ingressos e os tumultos fora do estádio podem ter contribuído para a insatisfação do público. Ainda que o Planalto negue incômodo, as vaias eram temidas pela equipe presidencial já durante a preparação do evento. No planejamento da abertura, a Fifa propôs que Dilma fosse até o gramado para cumprimentar a Seleção. A equipe do cerimonial da Presidência vetou o ato.

A vaia à presidente animou os oposicionistas, que exaltaram o ambiente de “deterioração” do governo. Presidente do PSDB de Minas Gerais e cotado para coordenar a campanha de Aécio Neves à Presidência em 2014, o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG) criticou o estilo “autoritário” e “pouco simpático” de Dilma Rousseff.

– Três vaias não são uma coisa acidental. A presidente não é carismática. Vamos explorar esse contraste e mostrar que o Aécio está disposto a conversar – explica o tucano.

O PSDB já apresenta o senador Aécio Neves em seu programa de TV com o bordão “Vamos Conversar”. A intenção é colocá-lo como alguém de diálogo e com interlocução política.

A presidente deverá participar do encerramento da Copa das Confederações, dia 30, no Maracanã. Não há previsão de discursos. O Planalto nega qualquer relação com as vaias.

KELLY MATOS
DO LEITOR ZERO HORA - Vaias a Dilma

Depois das vaias recebidas por Dilma na abertura da Copa das Confederações, ouvimos todo tipo de desculpas. Mas a pior foi a dos petistas afirmando que ali havia apenas a Classe A, por isso tanta vaia. Tenho que veementemente discordar dessa desculpa, porque a tal classe A nunca ganhou tanto dinheiro com o PT no poder e jamais vaiariam a presidente. Quem vaia Dilma sabe que seu desgoverno é perdulário. Beatriz Campos, Designer de interiores – São Paulo (SP)

As vaias a Dilma são um indicativo da queda de popularidade, com reflexos eleitorais? Não acredito. O mesmo aconteceu com Lula no Pan-Americano de 2007. Lucio José Finkler, Aposentado – Marau


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