A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

SINAIS DE INSATISFAÇÃO


ZERO HORA 17 de junho de 2013 | N° 17464

EDITORIAIS


O Brasil do futebol começou bem a Copa das Confederações, mas o Brasil real passa por sobressaltos neste início do primeiro dos quatro grandes eventos internacionais que se comprometeu a organizar. Antes mesmo da primeira vitória do time de Felipão, protestos de rua contra as tarifas de ônibus e contra a própria competição esportiva resultaram em confrontos desgastantes das forças de segurança com jovens manifestantes. Na cerimônia de abertura em Brasília, um elemento novo foi acrescentado ao clima evidente de insatisfação de setores da sociedade: a grande vaia para a presidente Dilma Rousseff no Estádio Mané Garrincha. Pode ter sido circunstancial, pois torcedor brasileiro como dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues vaia até minuto de silêncio. Mas, no atual contexto de turbulência na economia e de descrédito crescente dos cidadãos com a classe política, a manifestação da torcida merece ser levada a sério.

Ainda é cedo para uma análise mais aprofundada desse movimento difuso e contagiante protagonizado por jovens em várias capitais brasileiras. O pretexto é o serviço de transporte público: os manifestantes exigem preços mais baixos, alguns querem até a gratuidade, e também mais qualidade. Numa democracia, atos dessa natureza são naturais e até bem-vindos, por serem reveladores do comprometimento das pessoas com a cidadania. Há, porém, excessos preocupantes: acobertados pelo coletivo, alguns manifestantes aproveitam para depredar prédios públicos e veículos, além de prejudicar direitos de terceiros. Também as forças policiais estão encontrando dificuldade para lidar com a situação, como se viu especialmente em São Paulo, onde PMs agiram com violência inexplicável.

É uma situação nova para o país. Diferentemente do que ocorreu na campanha das Diretas, nas passeatas pelo fim da ditadura e nos protestos pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor, agora não há um objetivo bem definido. Prova disso é que mesmo depois da redução dos preços das passagens de ônibus em Porto Alegre, por decisão judicial, as manifestações continuaram.

Ao que tudo indica, essa revolta está sendo marcada pelo protagonismo jovem e pela ausência de orquestração político-partidária, ainda que algumas siglas estejam tentando tirar vantagem da situação. O que está absolutamente claro é a existência de um clima de desconforto, que vem sendo manifestado tanto pelas redes sociais quanto pelo atendimento às convocações feitas via digital.

Quando as pessoas saem às ruas para protestar e quando os governantes começam a ser questionados em locais públicos, é preciso parar para refletir. A Copa das Confederações começou bem no futebol e na organização, com belos espetáculos nos três jogos já realizados. Mas o país da Copa vive um momento de angústia e expectativa.

MULTIMÍDIA

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