A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

terça-feira, 18 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES PELAS CAPITAIS BRASILEIRAS FOI A MAIOR DESDE 1992

ZERO HORA 18/06/2013 | 00h53

Manifestação pelas capitais brasileiras foi a maior desde o Fora Collor, em 1992. Apesar de ter começado com caminhadas pacíficas, muitos dos eventos terminaram em pancadaria e vandalismo


Manifestantes subiram na rampa do Congresso NacionalFoto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil


Uma onda de protestos tomou conta das principais capitais do país nesta segunda-feira e colocou em xeque variadas formas de poder – do Legislativo ao Executivo, da Polícia ao Judiciário. Foi a maior manifestação coletiva desde o Fora Collor, que resultou no impeachment do então presidente Fernando Collor.

O país não via passeatas simultâneas em tantas cidades desde que os caras-pintadas saíram às ruas para impulsionar a deposição de Collor, em 1992. Apesar de ter começado com caminhadas pacíficas, muitos dos eventos terminaram em pancadaria e vandalismo, inclusive em Porto Alegre – berço da primeira onda de descontentamento, contra aumentos nas tarifas de ônibus.

Na Capital, o que começou como um dos maiores protestos pacíficos da história do Estado acabou dando origem, pela ação de grupos radicais, a um dos confrontos mais violentos das últimas décadas, com batalha entre parte dos manifestantes e PMs, explosões de bombas caseiras e de efeito moral, incêndio de mais de 50 contêineres de lixo e de um ônibus, depredações generalizadas e prisões.

Militantes veteranos e jovens que debutavam nas caminhadas se uniram para gritar contra o preço das passagem de ônibus, contra gastos abusivos com a Copa do Mundo que se avizinha, contra a corrupção, contra o fundamentalismo religioso, contra a proibição do aborto, contra a discriminação aos gays, contra a violência policial... Contra. Foram horas de passeatas que paralisaram a área central de cidades como São Paulo, Rio, Brasília, Goiânia, Salvador, Belo Horizonte, Natal, Belém, Florianópolis.

Sem esquecer, claro, a capital gaúcha. Bandeiras não faltaram. Do Brasil, de partidos, da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do arco-íris, símbolo da diversidade sexual. Preocupados em não partidarizar o movimento, alguns organizadores gritavam “Sem partido, sem partido”, informa o jornalista Rodrigo Lopes, que cobriu os protestos para Zero Hora, em São Paulo. Um apelo infrutífero. Proliferavam estandartes do Psol e PSTU.

O maior ato aconteceu na capital paulista. Organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL), a caminhada começou por volta das 17h, no Largo da Batata, em Pinheiros. Segundo a Polícia Militar, o ato reuniu mais de 60 mil pessoas – a maior passeata desde o início da onda de protestos pela redução da tarifa de ônibus, no dia 6.

Foi tão organizada que os manifestantes partilharam instruções de segurança no caso de prisões por parte da PM ou da Polícia Civil. O informe relacionava telefones para pedir ajuda no caso de detenção, recomendava não assinar nada sem a presença de um advogado, filmar o ato, gravar o nome dos policiais, ficar em silêncio na falta de um advogado e não discutir com os PMs.

Tropa de choque e auxílio jurídico

O movimento paulista disponibilizava ainda celulares de advogados voluntários. A noite avançou e, talvez pelo diálogo mantido entre ativistas e governo, não se registraram confrontos em São Paulo.

Já Brasília viveu horas de convulsão. Após se concentrarem numa praça, manifestantes invadiram o pátio do Congresso Nacional, burlando o cordão de isolamento feito pela Polícia Militar (PM).

Com cartazes, faixas e bandeiras do país, eles subiram no teto da Câmara Federal e movimentaram a Esplanada dos Ministérios. Belo Horizonte também teve seu dia de confusão. Eram 17h quando irrompeu um confronto entre a tropa de choque da PM e os ativistas mineiros que trancavam vias em oposição aos gastos com as obras para a Copa das Confederações.

Os manifestantes, que se agrupavam na Avenida Antônio Carlos, perto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revidaram o disparo de bombas de gás dos soldados com pedras e colocando fogo em alguns objetos na avenida.

No Rio, o ato tomou quase toda a Avenida Rio Branco, no trecho da Candelária à Cinelândia. Um grupo de 60 advogados se pôs à disposição para agir em caso de prisões arbitrárias. Vinte estudantes de medicina vestindo jalecos se prontificaram a dar atendimento a eventuais feridos. Integrantes da passeata e PMs se engalfinharam na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que foi alvo de pichações e
invadida.

No Nordeste, Salvador registrou uma das maiores manifestações políticas da sua história, embora nada que se compare ao volume de gente que costuma desfilar no Carnaval. O protesto era contra o aumento das tarifas do transporte público...em São Paulo. E reuniu cerca de 5 mil pessoas no centro financeiro da capital baiana, de acordo com a Polícia Militar (PM). O grupo seguiu pela Avenida Tancredo Neves, que reúne a maior concentração de escritórios da Bahia, e seguiu para a Estação de Transbordo, onde planejavam embarcar gratuitamente em ônibus.

E Porto Alegre? Pioneira na onda de descontentamento que varre o país, a capital gaúcha também viveu uma noite de violência. A manifestação, que começou na prefeitura, foco principal dos protestos desde março, avançou bloqueando as avenidas centrais e terminou com quebra-quebra de empresas na Avenida Ipiranga, uma das principais da cidade. Foram contidos e dispersados pela Brigada Militar com uso de gás e bombas de efeito moral. Um cenário que se repetiu em outras capitais..

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