A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

terça-feira, 18 de junho de 2013

MINORIA SELVAGEM

ZERO HORA 18 de junho de 2013 | N° 17465


EDITORIAIS


O vandalismo e o terror comprometeram as marchas pacíficas que jovens de várias capitais brasileiras programaram para o dia de ontem, sob o pretexto de protestar contra o preço das tarifas de transporte, contra os gastos com a Copa do Mundo e por outros motivos menos visíveis. Até o Congresso Nacional, em Brasília, foi invadido por manifestantes numa noite que também teve depredações e bloqueios de rua em outras cidades do país. Em Porto Alegre, só a ação firme da Brigada Militar impediu dano maior a estabelecimentos comerciais e equipamentos públicos. Infelizmente, atos de violência praticados por uma minoria acabaram prejudicando o diálogo que autoridades de vários Estados se propuseram a estabelecer com as lideranças do movimento.

Havia uma predisposição geral para evitar conflitos como os que ocorreram em São Paulo na semana passada, quando se registrou uma repressão desmedida contra manifestantes e transeuntes comuns. Mas o que acabou ocorrendo foi um retrocesso. As cenas registradas ontem fizeram com que o Brasil passe a se alinhar aos países europeus e árabes em espaço no noticiário e nas redes sociais. As vaias à presidente Dilma Rousseff e ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, na solenidade de abertura da Copa das Confederações, no sábado, já haviam reforçado a impressão de que a insatisfação não se resume à questão das tarifas de ônibus. Pelo Instagram, rede social para compartilhamento de imagens, artistas de TV, modelos e outras celebridades divulgaram fotos com o olho roxo, num gesto de solidariedade aos agredidos pela polícia. Até mesmo no Exterior há manifestações de apoio ao movimento no Brasil, que da redução do preço da passagem de ônibus passou a levantar bandeiras como o repúdio à homofobia e ao desinvestimento em saúde e educação.

Quando um movimento como o que tomou conta de São Paulo, Rio, Porto Alegre e Brasília nos últimos dias emerge, galvanizando atenção de amplas parcelas da população, o Estado não pode se refugiar no descaso e muito menos responder apenas com bombas de efeito moral e balas de borracha. Cabe ao poder público garantir, sim, a ordem, o respeito à lei e o direito de ir e vir, e para esse fim existem as instituições policiais e de fiscalização do trânsito. Imaginar, porém, que esses instrumentos bastam para dar conta de uma sociedade cada vez mais complexa e interconectada, na qual distintos setores são capazes de expressar demandas de forma muito mais livre e generalizada do que antes da atual revolução tecnológica, é uma grave falta de qualquer governante. Equivale a perder de vista o dever do Estado de dialogar com a população e canalizar anseios e reivindicações por meio da construção do consenso.

Por isso, merecem reconhecimento atitudes como a do ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, que recebeu no Planalto representantes de grupos que participaram do movimento de sábado diante da Arena Mané Garrincha. Em vários Estados, as autoridades também ensaiam gestos de abertura em relação aos manifestantes. Apesar do radicalismo de alguns setores, ainda há espaço para o diálogo. O país precisa mostrar que, após 25 anos de normalidade democrática, aprendeu lições de civilidade e respeito à diferença e está preparado para encontrar soluções negociadas.

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