A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

PROTESTO NA REDE

zero hora 19 de junho de 2013 | N° 17466

Um mosaico de ideais



Combinados pelas redes sociais, os protestos ganham vida nas ruas do país e retornam para a internet em forma de milhões de comentários nos mais variados matizes políticos e ideológicos.

Mensagens de apoio, repúdio, alegria, ódio, esperança, incentivo, devaneios e conspirações. Valores, sentenças e interpretações dos fatos jorram aos milhões nas redes sociais desde o início dos protestos em 11 capitais brasileiras na segunda-feira, recontando detalhes de um fato histórico.

Embora ainda faltem respostas para tudo o que está acontecendo, o mosaico de postagens mostrou a cara heterogênea e divergente das manifestações, que passaram a reunir anarquistas, punks, extremistas de esquerda, universitários, classe média e até mesmo indivíduos de perfil mais conservador, cada qual com os seus ideais.

Um levantamento da empresa Tribatics mostrou uma detalhada apuração sobre as publicações no Twitter relacionadas às passeatas entre o início da tarde de segunda-feira e a manhã de ontem. Foram mais de 604 mil tweets, disparados por 270 mil usuários. As expressões mais utilizadas foram “Brasil”, “rua” e “a maior”. Isso sem contar as manifestações no Facebook e You Tube, que elevaram aos milhões as manifestações sobre os atos. As causas que motivaram as pessoas se multiplicaram. A tarifa de ônibus foi o gancho inicial, os gastos excessivos com a Copa foram um combustível extra, mas as redes sociais gritavam para denunciar corrupção, carências em saúde, educação e segurança e a manutenção do status quo.

A heterogeneidade dos ativistas, então, passou a produzir na internet uma miscelânea de urros e conflitos. Cada um reivindicando algo diferente do outro. E interpretando os fatos também de forma diversa. Nada mexeu mais com os ânimos da população do que a discussão sobre o pacifismo ou a violência das caminhadas. Muitos se diziam assustados com o que está ocorrendo, com a queima de lixeiras e ônibus, depredação de estabelecimentos e confrontos com a Polícia Militar.

Turbilhão de contradições

Argumentos sustentavam que a agressividade significava a perda da razão, a desconexão com as causas, a perda do apoio de segmentos sociais e, pior, a abertura de brecha para eventuais reações truculentas das autoridades.

De outra parte, indignados combatiam essas opiniões, afirmavam que protesto sem prejuízo ao patrimônio não causa o mesmo impacto, não alcança as mesmas conquistas, não amedronta, de fato, os governantes. Com letras em caixa alta, berravam que violência de verdade é amargurar no banco de um hospital do SUS ou aturar mais uma obra superfaturada.

Os críticos dos ativistas violentos também passaram a apontar contradições. Provocavam ao dizer que eles estavam protestando contra o sistema, encapuzados, destruindo o que havia pela frente e, ao mesmo tempo, vestindo roupas de marcas multinacionais. Seriam rebeldes querendo apenas extravasar.

No turbilhão de opiniões, os mais desencantados defendiam a manutenção das marchas majoritariamente apartidárias, enquanto outros ressaltavam que, somente através da política tradicional e do sistema democrático, é possível mudar a cara do poder e transformar verdadeiramente o país em algo melhor.

A imprensa também esteve no cerne das manifestações. Criticada por alguns, acusada de atuar alinhada ao sistema econômico e promover discurso conservador, e elogiada por outros que citavam a sua participação decisiva na consolidação da democracia e a denúncia de incontáveis desmandos da classe política e empresarial.

A vivacidade foi tamanha que não faltaram as teorias conspiratórias. Proliferaram denúncias apontando interesses dos Estados Unidos para desestabilizar o Brasil. Revoltados, indivíduos acusavam o coletivo Anonymous de ter origem estrangeira. E chamavam de golpe à democracia brasileira a petição on line do grupo Avaaz – de atuação internacional –, que pretende reunir 5 milhões de assinaturas digitais para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Não há consensos. Não há bandeiras únicas. Não há homogeneidade. Não há métodos-padrão. Há, sim, uma multidão sedenta por falar. Todos querem mudar o Brasil. Algo em comum? O nível de insatisfação chegou ao limite dos manifestantes.


CARLOS ROLLSING

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