A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

UM ESPÍRITO DE MUDANÇA

ZERO HORA. 19 de junho de 2013 | N° 17466

FORÇA JOVEM


Participante da maioria pacífica dos protestos, a estudante Laura Bittencourt cobra dos governantes que ouçam a juventude e se alegra com a repercussão do movimento

Desde pequena, a estudante Laura Bittencourt, 16 anos, nunca teve papas na língua para defender seus ideais: ecologia, liberdade de opção sexual e, mais recentemente, a redução das tarifas de ônibus. Diante da fúria retórica com que a pequenina de apenas dois anos gesticulava e bradava na defesa de suas ideias, a mãe, Ana Carolina, chegava a brincar que Laurinha seria, um dia, presidente de uma central sindical.

Estudante do Colégio Estadual Paraná, no bairro Cristal, em Porto Alegre, a adolescente ainda não tem idade para provar se o palpite estava certo ou errado. Mas demonstra a cada dia mais convicção de estar nesse caminho.

Destacada na capa de Zero Hora de ontem como símbolo da maioria pacífica que participou de mais uma noite de protestos na Capital, Laura acredita estar fazendo a sua parte – e da melhor maneira possível – na mobilizações nascidas na internet.

– Estão investindo muito em estádios, e ficamos tristes em ver a educação e a saúde serem deixados de lado. A gente quer lutar contra essa falta de interesse e de respeito com o povo – afirma a estudante, piercing no nariz e alargadores nas orelhas.

Em seu quarto, em um apartamento no bairro Cavalhada, na zona sul da Capital, Laurinha exibe as referências que lhe inspiram no dia a dia. Na parede, um varal com poesias de Mario Quintana, Paulo Leminski e Fernando Pessoa divide espaço com páginas de revistinhas da Turma da Mônica e um poster do grupo de rock progressivo Pink Floyd. Em uma mesinha do apertado recanto da menina-moça, incensos, o livro Perestroika, de Mikhail Gorbachev, uma girafinha de pelúcia e o disco de vinil Luz das Estrelas, de Elis Regina.

– Adoro Chico Buarque – diz a menina, revelando a origem da frase estampada na capa de ZH, “o dia vai raiar sem lhe pedir licença”, retirada da canção Apesar de você, lançada em 1970, um escancarado recado à ditadura militar disfarçado no roteiro de uma briga de namorados.

Mas Laura não se deixa levar pelo ambiente lúdico. Questionada, lida bem com as palavras e argumenta sobre os rumos do movimento. Para ela, o que a juventude conectada quer mesmo é ser ouvida:

– A gente gostaria que nos escutassem e mudassem algumas atitudes erradas conosco. Que escutassem nossas ideias e pensassem a respeito. E o que desse para fazer, fizessem. Porque é possível, e a gente sabe.

Com sorriso largo, ar de menina e argumentos de gente grande, Laura se diz muito feliz com a repercussão do movimento em todo o Brasil:

– A gente não esperava isso. Já participei de muitos movimentos e eram muito menores. Isso deixa a gente bastante feliz. A gente está vendo que muita gente está acordando para o que realmente importa.

MARCELO MONTEIRO

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