A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 22 de junho de 2013

PROTESTO SIM, ARRASTÃO NÃO


Notou-se um pequeno cartaz com a seguinte inscrição, que poderia funcionar como uma espécie de epígrafe: “Menos eu e mais nós”


ZUENIR VENTURA
O GLOBO
Atualizado:22/06/13 - 0h00


Calcula-se que mais de um milhão de pessoas participaram das últimas manifestações em todo o país. Destas, é provável que a maioria tenha sido formada por jovens entre 15 e 35 anos, ou seja, aquela turma que os americanos chamam (e nós repetimos) de “geração do milênio”, “geração internet” ou “geração me”, por ser supostamente individualista, narcisista, ansiosa, dependente dos smartphones e, sobretudo, alienada. Uma pesquisa da revista “Time” concluiu que, entre todos os exemplares da juventude pós-moderna, essa é a de menor participação política, a de engajamento zero. Também aqui no Brasil reclamávamos que ela não gostava de ler, não tinha projeto e só pensava em si — que se danasse o outro, o país e o mundo, já que cada um, diante do computador, criava o seu próprio universo virtual. Ao contrário da geração de 68, dogmática e apostólica, que acreditava na vitória do proletariado, os jovens do terceiro milênio seriam menos crédulos e menos solidários, só querendo saber do aqui e agora.

O que ninguém esperava é que esses jovens tidos pelos estereótipos como os mais alienados seriam justamente aqueles capazes de “acordar o gigante adormecido” e de devolver ao país o ânimo de poder mudá-lo. E isso sem a máquina do Estado, sem a cobertura dos sindicatos, dos partidos nem das organizações sociais. Apenas com a internet. Cobrindo a manifestação no Rio, a repórter Lilia Teles notou um pequeno cartaz com a seguinte inscrição, que poderia funcionar como uma espécie de epígrafe: “Menos eu e mais nós.” De todas as palavras de ordem lidas e ouvidas nas passeatas, estas talvez tenham sido as que melhor soam como programa e plataforma de uma geração anárquica, que não quer nem uma coisa nem outra, e que, de tão diversa, nem mesmo pode ser chamada de geração.

***

Se nada for feito com rigor para impedir a infiltração dos vândalos nas manifestações, o movimento vai perder o que havia conquistado: o apoio entusiasmado da opinião pública, que está sendo substituído pelo medo. Não adianta mais alegar que esses marginais predadores constituem uma minoria, porque é uma minoria disposta a só produzir estragos. Imagens como as de ontem à tarde na Barra da Tijuca, por exemplo, mostrando grupos de jovens com o rosto coberto, agindo impunemente — quebrando vitrines, promovendo saques em lojas e depredando automóveis à venda —, tinham a ver mais com arrastão do que com protesto.

Zuenir Ventura é jornalista

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