A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

PROTESTOS E VAIAS

ZERO HORA 21 de junho de 2013 | N° 17468

ARTIGOS

Afonso Motta*



Através das redes sociais e agora nas ruas, os protestos e vaias refletem inconformidade generalizada contra os precários serviços públicos, a inflação que mexe no bolso da classe média e a suposta corrupção que acompanha as vultosas obras para a Copa do Mundo a se realizar no Brasil. É procedente a insatisfação e o desconforto de uma parcela ruidosa da sociedade, excluindo os tumultos e a quebradeira de rua, que trazem prejuízos materiais de bens públicos e privados, mas especialmente colocam em risco a integridade física de milhares de pessoas. Não adianta agora gritar contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Ela é fato consumado. Entretanto, é contributiva a vigilância com relação à execução das obras e a qualificação de transportes, segurança, educação e saúde pública.

Toda a questão de presente e futuro está relacionada com escolhas que a população vai fazer e que vão repercutir na política pública. O debate cada vez vai ser mais em rede, pelos veículos digitais que a internet oferece e, portanto, mais democrático e amplo, mesmo que os setores mais pobres da sociedade ainda não tenham o pleno acesso. É uma discussão diferente. Este é o ponto de atenção especial, com participação informal, mais democrática, sem lideranças tradicionais e de repercussão imediata. Cada um diz o que quer e receptores escolhem o que ouvir. Os atos presenciais e de exteriorização pública expressam apenas uma pequena parte da repercussão que está em tempo integral na rede. Não submete a totalidade das pessoas aos riscos, mesmo que sejam de opinião, mas todos podem participar e contribuir. Tudo isto não é, como outrora, mera suposição ou opinião, mas fato, nova realidade. Até bem pouco, os atos públicos eram convocados ou liderados por alguma entidade, partido ou liderança, agora brotam pelo simples apelo em rede e têm a finalidade mais ampla possível. Como tudo isto influencia e repercute na sociedade é que desafia a compreensão.

Há quem ainda duvide desta realidade como integrante do novo processo social e político, mas é muito provável que essas referências estejam aí para ficar, alterando substancialmente os procedimentos e o modo de agir da população. Sendo assim, quando se inicia um novo debate político-eleitoral para a escolha dos futuros governantes e representantes no governo federal e Estados para o Executivo e Legislativo, pela mesma rede, teremos oportunidade de conhecer as pessoas, saber plenamente de suas credenciais, sua política e a forma como vão fazer escolhas. É sabido que não dá para atender todas as demandas e qualificar a plenitude dos serviços pela política pública, mas nas escolhas pode ficar clara a prioridade pela educação e saúde ou o direcionamento de recursos para uma infraestrutura que pode beneficiar uma população ou região mais carente e desprovida. Parece também que a democracia indireta vai ficando cada vez de fato mais direta, mesmo com vaias e protestos.


*ADVOGADO, PRODUTOR RURAL E SECRETÁRIO DE ESTADO

Nenhum comentário: