A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

ENTRE O CIVISMO E O VANDALISMO




ZERO HORA 21 de junho de 2013 | N° 17468


Germano Rigotto*


Não se pode resumir o movimento de protestos que toma o país ao vandalismo que dele resultou. É injusto colocar no mesmo balaio de interpretação todos aqueles que foram às ruas para apresentar suas reivindicações. Apesar da violência de alguns, havia ali a maioria de pessoas bem-intencionadas. Também não se pode desprezar o tamanho que esse movimento está tomando. Parece haver um sentimento de frustração que precisa ser melhor averiguado por quem analisa a opinião pública.

Por outro lado, é inevitável constatar o exagero de algumas atitudes. Depredar patrimônio público, por exemplo, é ato que não merece complacência. Idem para o uso de bombas caseiras, a pichação de prédios, a quebra de lojas e o apedrejamento de ônibus. Dar margem a isso é derivar para o caos social. Nenhuma causa, por mais elevada que possa ser, justifica tais meios. Quanto ao papel da polícia, cenas mostram que houve algumas reações desproporcionais. Os excessos devem ser apurados e coibidos, mas não se pode satanizar o legítimo trabalho dos policiais.

Oxalá os protestos não se transformem em meras badernas. Ou em revoltas em torno de si mesmas, que perdem força ali adiante. Mais produtivo seria se esse levante popular adotasse causas com implicação nas questões estruturais do país. Os jovens que bradam pelas ruas e avenidas, quase nenhum deles aparentando miserabilidade, têm responsabilidade de buscar informações sobre bandeiras que realmente mudariam a realidade brasileira – gerando mais desenvolvimento econômico e social.

Convido-os para protestar pela mudança do sistema tributário, que prejudica especialmente os pobres e os trabalhadores assalariados. Do sistema político, que reproduz o fisiologismo e o clientelismo, induz à corrupção e inibe a renovação. Do pacto federativo, que concentra poder e recursos no governo federal, afastando as soluções da população determinando o crescente passeio do dinheiro público com seus desvios e a má qualidade dos serviços disponibilizados à população. A juventude esclarecida precisa tomar-se desse tipo de responsabilidade cívica. Estudar, compreender e dialogar sobre transformações reais e necessárias em um país emergente. Para um tempo que já dista da Guerra Fria, que superou enfados ideológicos, que conquistou o Estado democrático de direito e que não abdica da liberdade individual.

Não há problema em que as ruas se tomem pela livre manifestação de grupos, sejam eles organizados ou independentes. Mas se desboroar, não passarão de inconsequentes casos policiais. A aspiração de toda a nação é de que a onda de protestos seja ordeira, criativa, respeitadora. E que contemple mudanças realmente importantes. Se for nessa linha, poderá escrever um novo marco cívico.

*PRESIDENTE DO INSTITUTO REFORMAR, EX-GOVERNADOR DO RIO GRANDE DO SUL

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