A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

QUINTA DE PROTESTOS

ZERO HORA 20 de junho de 2013 | N° 17467

MANIFESTAÇÕES PELO INTERIOR

Manifestações de hoje vão se alastrar também pelo interior do Brasil. No Estado, além de Porto Alegre, há atos marcados para cidades como Rio Grande, Santana do Livramento, Santa Maria e Pelotas


ITAMAR MELO

A inédita onda de insatisfação que ganhou as ruas nas últimas semanas, reunindo multidões nas principais capitais brasileiras, deve se espraiar hoje, atingindo novamente o interior do país.

Há previsão de manifestações em mais de uma centena de cidades, em todas as regiões. No Rio Grande do Sul, atos públicos estão marcados em pelo menos 15 municípios.

A mobilização acontece três dias após o protesto de segunda-feira, quando multidões marcharam por 11 capitais, incluindo São Paulo, Rio, Brasília e Porto Alegre. Sem líderes reconhecidos, os protestos são convocados por diferentes grupos, movimentos e indivíduos via internet, especialmente por intermédio do Facebook.

Às 21h de ontem, em uma das várias páginas que chamavam para o protesto previsto para Porto Alegre. Houve confirmações também para os atos no interior gaúcho. As cidades com manifestações programadas para hoje são: São Leopoldo, Pelotas, Passo Fundo, Alegrete, Rio Grande, Sapiranga, Santana do Livramento, Sapucaia do Sul, Lajeado, Santa Rosa, Bagé, Santa Maria, Ijuí, Soledade e Tenente Portela.

“Pegaram o gosto de ir para a rua”

Os protestos começaram como um movimento pela redução das tarifas de ônibus, mas foram ganhando corpo com o passar do tempo. A questão do transporte público tornou-se apenas uma entre muitas causas abraçadas pelos ativistas.

– Aconteceram muitas coisas nesses dias, o movimento ganhou dimensão nacional e ultrapassou a pauta inicial. As pessoas pegaram gosto de ir para a rua e querem uma reforma política séria, querem ter participação efetiva – analisa Ernani Rossetto Juriatti, 28 anos, da direção do Diretório Central de Estudantes da PUCRS.

A estudante de cursinho pré-vestibular Marina Tabanisk, 18 anos, que participará hoje de seu terceiro protesto em Porto Alegre, é uma das que estarão na rua por motivos que vão além da tarifa do ônibus:

– O que me move mais é a corrupção, o dinheiro público que vai para a Copa e não para saúde e educação.

Marina programou com um grupo de amigas encontrar-se no centro da Capital para a manifestação, mas teme que a violência registrada na noite de segunda-feira possa desanimar parte dos manifestantes e fazê-los ficar em casa.

– Como houve muita confusão, o pessoal pode ter se assustado. Os pais podem não querer que participem. Quase todo mundo é contra a violência, quer fazer uma manifestação pacífica e vai xingar quem vandaliza – afirma ela.

Clima de repúdio a atos de violência

As depredações e confrontos com a Brigada Militar ocorridos na última mobilização estiveram entre os temas mais discutidos ao longo da semana nas redes sociais. A estudante de Relações Internacionais Manuela Burtet, 20 anos, conta que há um clima de repúdio à violência e ao vandalismo – ela fez questão de firmar uma espécie de abaixo-assinado virtual contra os que semeiam o terror pelas cidades. Na segunda-feira, Manuela estava na Avenida João Pessoa no momento em que um ônibus foi depredado. Era seu primeiro protesto.

– Foram apenas 15 pessoas que queimaram o ônibus. Essa gente tem de pagar por isso. Até a Avenida Ipiranga, o protesto foi superbem, pacífico. Mas então esse grupo teve atitudes que prejudicaram a manifestação. A galera vaiou esse pessoal. Eles são loucos. Não nos representam. As pessoas queriam continuar se manifestando na rua e tiveram de ir embora por medo desse pessoal. Agora há a preocupação de mostrar que a grande maioria é totalmente contra a depredação. O nosso objetivo é um protesto pacífico do início ao fim – diz Manuela.

Brigada orientou policiais a dialogar


Luhcas Alves, 27 anos, integra dois coletivos que têm ajudado a chamar a população para a rua se manifestar. Segundo Luhcas, o fato de o movimento não ter uma liderança institucionalizada dificulta o controle sobre atos de alguns grupos. Ele critica o fato de integrantes da maioria pacífica também terem sofrido com a ação da Brigada Militar.

– Existem muitos focos. Algumas pessoas se exaltam. Mas a gente precisa olhar para o lado positivo. As pessoas estão saindo de suas casas para dizer que querem mudança.

Preocupada em que não ocorram excessos, a BM orientou seus policiais a dialogar com os manifestantes. A ideia é que os PMs acompanhem a manifestação desde o início, sentem lado a lado com ativistas e conversem. Foram confeccionados panfletos que serão distribuídos pelos policiais. Neles, a Brigada diz que manifestações fazem parte da democracia e que os policiais estão ali para assegurar a segurança dos manifestantes – e também para evitar ações de vandalismo. Na terça-feira, o governador Tarso Genro disse que possíveis alvos de depredação serão protegidos:

– A Brigada vai proteger, sem discriminação, sempre que houver ameaça. Vai proteger o Correio do Povo, a Zero Hora, a sede do PSOL, do PMDB ou de qualquer partido que venha a ser ameaçado.


Tarso apela para evitar confrontos

Ao se referir aos protestos previstos para acontecer hoje em Porto Alegre, o governador Tarso Genro fez um apelo para que o caráter pacífico das manifestações prevaleça.

– Vamos fazer de amanhã (hoje) um dia de afirmação da liberdade, da justiça e da democracia. Não vamos fazer depredações – disse o governador durante pronunciamento em cadeia de rádio.

É grande o nível de tensão na cúpula do Palácio Piratini – que se reuniu ontem – com o acirramento de ânimos e orientação, por grupos de anarquistas internacionais, para que sejam adotadas táticas de guerrilha na Capital. Para o ato de hoje, por exemplo, uma das instruções repassadas seria o corte de toneis de plástico para utilizar como escudo em eventuais confrontos com a polícia.

Outra preocupação é com a fabricação de bombas caseiras, coquetéis molotov e movimentos estratégicos de avanço nas marchas. As orientações estrangeiras viriam principalmente via internet e telefone, mas anarquistas de fora do país já visitaram os líderes dos protestos em Porto Alegre.
ESCALADA DE MANIFESTAÇÕES

Mobilização popular em Porto Alegre começou ainda no fim do ano passado, mas agravou-se a partir de maio de 2013

4 DE OUTUBRO DE 2012

Contra o tatu-bola - Contrárias à privatização de locais públicos, cem pessoas cercaram o tatu-bola, mascote da Copa do Mundo, no Largo Glênio Peres. Alguns manifestantes invadiram o local onde estava o boneco inflável, o que resultou em confronto com policiais, munidos de granadas e balas de borracha. Houve feridos e, por dano ao patrimônio público ou lesões corporais contra policiais, 15 pessoas foram presas
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27 DE MARÇO DE 2013

Contra o reajuste de tarifas - Em março, houve protestos após o reajuste na tarifa de ônibus (no dia 21). Na quarta-feira, 27, a prefeitura foi atacada com pedras, tintas e frutas. Paredes foram pichadas e várias vidraças, destruídas. A polícia reagiu com bombas de efeito moral. Em abril, depois de novas pichações, Brigada Militar e Guarda Municipal não agiram e foram contestadas. Nos atos seguintes, não houve confrontos graves.

29 DE MAIO

Contra o corte de árvores - Em ação coordenada, cerca de 200 homens de vários grupamentos da Brigada Militar agiram na retirada dos manifestantes que acampavam ao lado da Câmara de Vereadores. Eles permaneceram no local por mais de um mês, em protesto contra o corte de árvores para a duplicação da Avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio). No final, 27 pessoas (21 homens e seis mulheres) acabaram detidas.

13 E 17 DE JUNHO
Não era só pelos R$ 0,20 - Mesmo com a tarifa do ônibus mantida desde abril no valor anterior ao aumento, os protestos continuaram. Dois atos, em 13 e 17 de junho, terminaram com conflitos e prisões. Em ambos, as depredações de prédios, contêineres e veículos motivaram a reação da Brigada, que usou gás lacrimogênio e balas de borracha. Na segunda, o protesto reuniu 10 mil pessoas e resultou em 45 prisões.

COMO AGIR NA MULTIDÃO

Algumas atitudes podem ser tomadas para quem quer exercer a sua cidadania, sem que o dia histórico fique marcado por lembranças negativas Onde é mais seguro andar na passeata?

É fundamental seguir o fluxo da manifestação, que geralmente ocupa a via – os mais exaltados, que são a minoria, procuram a calçada, onde há objetos e paredes para pichar ou depredar.

Como agir quando uma tropa de choque ou um policial se aproxima sem dar nenhuma ordem?

Quando as tropas de choque atuam, é porque não há mais diálogo. Se a ação é feita por um número reduzido de policiais, a fuga pode gerar desconfiança e resultar em prisão. Em qualquer situação, o confronto deve ser evitado.

Quando começa um confronto, o fato de não sair do local pode ser visto como crime?

É preciso algo mais concreto para se encaixar em crime. Especialistas em segurança recomendam que nessas situações a pessoa se afaste.

Ofender com palavras de ordem ou palavrões um policial pode resultar em prisão?

Há tolerância por parte dos policiais militares. Eles levam em conta o chamado “bem maior”. Se agirem, o resultado pode ser bem pior, por isso usam o bom senso para não agravar a situação. No entanto, há previsão do crime de desacato à autoridade.

SOBRE A ATUAÇÃO DA POLÍCIA

Ouvidoria da Secretaria da Segurança Pública – 0800-6465432
Corregedoria da BM – (51) 3288-2742
Disque-denúncia SSP – 181
E-mail: ouvidoria@ssp.rs.gov.br
Grupos de manifestantes sugerem sites como
https://policiaparaquemprecisa.crowdmap.com/
para relatos sobre a atuação policial.
Fonte: Fontes: Rodrigo Puggina, coordenador-geral da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), e tenente-coronel Marcelo Giusti, comandante do 18º BPM (Viamão) e especialista em controle de distúrbios civis e uso progressivo da força e da arma fogo

SERVIÇO - Conforme o andamento dos protestos, ruas e lojas podem (ou não) ser fechadas

TRANSPORTE - Como a rota da manifestação não é divulgada antecipadamente, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) não tem como prever as vias que serão bloqueadas. Os ônibus e os táxis irão operar normalmente.

COMÉRCIO DE RUA - O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas), Ronaldo Sielichow, não determinou horário para fechamento antecipado dos estabelecimentos comerciais. No entanto, os lojistas foram orientados a fecharem as portas caso sintam sua integridade física ou patrimonial ameaçadas.

SUPERMERCADOS -  Conforme a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), os estabelecimentos abrirão normalmente. No entanto, os responsáveis podem determinar o fechamento caso percebam alguma ameaça às lojas.

COLETA DE LIXO - O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) vai recolher 80 contêineres de lixo doméstico a partir do meio-dia, para evitar depredações. O órgão solicita que moradores dos bairros Centro Histórico e Cidade Baixa não depositem lixo nas ruas após o horário informado. Na manhã de sexta-feira, os equipamentos deverão estar em seus lugares.



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