A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 22 de junho de 2013

TODO ESSE GRITO CONTIDO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2275
| 21.Jun.13 - 17:40

EDITORIAL






Carlos José Marques, diretor editorial

Foram tantos e tão legítimos os gritos de ordem que eles conseguiram calar até os acordes de truculência policial dos primeiros dias. Jovens, em sua maioria, ganharam as ruas e o direito de serem ouvidos. Políticos atônitos, de diversas filiações, foram tomados de surpresa. Não sabiam, e ainda não sabem, o que fazer. Como surfar nessa onda ou ao menos não ser derrubado por ela. Recuam, reavaliam e aguardam a nova ordem, que está sendo composta nas ruas. Com vitórias inicialmente pontuais – a revisão, para baixo, da tarifa de ônibus parece ser apenas a primeira delas –, os manifestantes partiram atrás de bandeiras mais ambiciosas. Algumas românticas até. O desejo de mudar os move e deixa um recado claro àqueles que querem representá-los: não vão mais tolerar calados os desaforos dos escolhidos nas urnas. Bom para a democracia imberbe do Brasil. 

A aula de civismo da nova geração vem, como não poderia deixar de ser, da maneira mais inovadora possível: através das redes sociais, projetadas como autênticos líderes do movimento. Sem rosto definido, sem coloração partidária, sem projeção em palanque, sem a ambição do voto. Uma liderança genuína, curtida numa nova ferramenta, com uma nova linguagem e uma nova agenda. Ao montar sua articulação na blogosfera e nos “facebooks” da vida, essa turma multiplicou o impacto e a reverberação das queixas. Capitalizou adesões em ritmo meteórico. 

O protesto transbordou. A emoção transbordou.Um sentimento abafado até aqui acordou. A indignação, em seus vários graus e circunstâncias, coloca em xeque a forma como o Estado brasileiro opera. Temos uma nação autocrática que desrespeita o povo em inúmeras das demandas que há séculos ele almeja conquistar, da saúde à educação, do transporte ao saneamento básico. Que não se desconsidere mais o clamor popular. Ele vinha gradativamente explodindo no inconsciente coletivo. Tomou corpo e organicidade. 

As inquietações e insatisfações não se refletem numa pauta de reivindicações única, específica, preexistente. Não podem ser enquadradas em modelos restritos de classe social, cor ou crença. Há de tudo um pouco e, no geral, seus mentores pedem o rompimento do processo de injustiças em curso. Não devem, naturalmente, buscar isso de maneira anárquica, autodestrutiva, como certos grupelhos de vândalos, saqueadores e aproveitadores tentaram fazer por esses dias, em um papel deplorável. Eles são, obviamente, uma minoria cujos atos não podem ser imputados ao movimento. Os excessos devem ser contidos. O inconformismo com os desmandos públicos, jamais. Ele é a faísca que acende a busca por um país melhor.

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