A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 22 de junho de 2013

PADRÃO FIFA

REVISTA ISTO É N° Edição: 2275 | 21.Jun.13

A Copa das Confederações vira alvo de manifestações pelo custo excessivo das obras diante da baixa qualidade dos serviços públicos do País

Natália Mestre

Em outubro de 2007, quando o Brasil foi confirmado como sede da Copa de 2014, o povo comemorou. Talvez não soubesse ao certo as consequências dessa decisão. Passados seis anos, o quadro é outro. As manifestações que tomaram conta do País nos últimos dias não pouparam a Copa do Mundo e a das Confederações. Por todos os lados, cartazes como “Copa é prioridade, Brasil?”, “Queremos escolas padrão Fifa”, “Da Copa eu abro mão, quero dinheiro para a saúde e a educação” deixaram claras duas questões. A primeira é que os custos elevados e muitas vezes superfaturados dos estádios e de outras obras relacionadas ao evento não têm a aprovacão popular. Eles estão descontentes com os R$ 28 bilhões investidos nos torneios (R$ 8,5 bilhões só para os estádios). Esse valor supera o custo das últimas três Copas juntas.



A outra questão diz respeito ao chamado padrão Fifa. Na verdade, o que se revela nas manifestações é uma crítica ao baixo nível dos serviços públicos como educação e saúde. O padrão Fifa – que prevê estádios com instalações impecáveis, banheiros limpos, lugares marcados, monitores treinados, entre outras exigências para o bom atendimento aos espectadores – é visto como uma espécie de selo de qualidade por sua organizacão, segurança e conforto, algo que deveria ser corriqueiro no serviço público.

Cidades-sede da Copa das Confederações têm assistido a sucessivos embates entre milhares de manifestantes e a polícia nas redondezas dos estádios nos dias de jogo. “É um grito pela Justiça de todos que foram expulsos das suas casas para a construção de novas obras para o torneio, somado ao sentimento de revolta pelo mau uso do dinheiro público”, explica Pedro Fassoni Arruda, professor de ciências políticas da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Diante dos gastos astronômicos e das inúmeras necessidades do País, muitos questionam o retorno efetivo que os eventos trarão.

A julgar pelos primeiros números disponíveis, os críticos parecem ter razão. A abertura da Copa das Confederações em Brasília, no sábado 15, deu prejuízo ao governo do Distrito Federal. Foi gasto o dobro do valor que o evento trouxe à cidade. Segundo a Secretaria de Turismo do DF, a abertura do Mundial injetou na economia local R$ 22 milhões com a movimentação da rede hoteleira, restaurantes e comércio, mas custou quase R$ 42 milhões aos cofres públicos. “O brasileiro está percebendo que o dinheiro que saiu do seu bolso não terá o retorno esperado”, diz a professora Heloísa Baldy dos Reis, especialista em sociologia do esporte da Universidade de Campinas. “É a percepção de que o tão prometido legado positivo da Copa não irá se confirmar.”

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