A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A VIOLÊNCIA SE REPETE NO RS


ZERO HORA 21 de junho de 2013 | N° 17468


CONFRONTO, DEPREDAÇÃO, SAQUE


Uma parcela minoritária na onda de protestos registrados no país introduziu um componente novo e perigoso na Capital: saques ao comércio

As depredações e os confrontos violentos entre manifestantes e Brigada Militar se repetiram na noite de ontem em Porto Alegre. O protesto pacífico mudou de rumo na chegada à Avenida Ipiranga, a algumas dezenas de metros do prédio de Zero Hora. Manifestantes atiraram coquetel molotov e pedras contra os PMs. Os policiais reprimiram a multidão com bombas de gás lacrimogêneo e outras armas de efeito moral. A situação foi definida pelo comandante da BM, coronel Fábio Duarte Fernandes, da seguinte forma:

– Eram 20 mil manifestantes e 250 depredadores.

A Avenida Lima e Silva virou campo de batalha. Manifestantes arrancaram um portão metálico de cinco metros de comprimento, vigas de concreto e tapumes para fazer uma barricada.

Vândalos infiltrados entre os ativistas não pouparam locais que já haviam depredado na segunda-feira. Uma revenda de motos voltou a ser atacada, na esquina da Ipiranga com a Azenha. Vidraças foram estilhaçadas. Os tapumes sobre os quais os proprietários manifestaram “Sim ao protesto pacífico” sofreram pichação.

Os ataques começaram quando a BM empurrou os manifestantes para longe da Avenida Ipiranga, por volta das 20h30min. Algumas centenas correram pela Avenida Azenha, em direção à Bento Gonçalves. Ali, longe do alcance e dos olhos dos policiais, registraram-se depredações e saques contra vários estabelecimentos comerciais.

Os protestos de ontem registraram um fenômeno novo e perigoso: os saques ao comércio. Adolescentes e jovens arremeteram com os pés ou com pedras e outros objetos contra as portas metálicas e de vidros das lojas. A primeira porta a ceder foi de uma loja de baterias. Um jovem entrou, apanhou uma bateria e correu pela rua abraçado a ela. Um punhado de manifestantes pôs-se a persegui-lo:

– Ladrão! Ladrão! Pega ladrão.

No segundo saque, vários jovens invadiram uma loja de material escolar e fizeram uma limpa. Saíram com mochilas, jogos e outros objetos, que mostravam orgulhosos uns aos outros. A Azenha esvaziou-se quando ouviram-se estampidos. Na Avenida João Pessoa, vândalos atacaram de novo prédios que já haviam sido depredados na segunda-feira, como uma revenda Volkswagen e a sede do Departamento de Identificação. A destruição chegou a agências do Itaú, na Azenha, do Banrisul, na João Pessoa, do Banco do Brasil, na Venâncio Aires. Danificado em menor escala na segunda-feira, o Shopping João Pessoa não foi poupado da fúria.


OS NÚMEROS. O saldo negativo da noite

- Pelo menos 18 pessoas foram presas
- Sete agências bancárias foram depredadas
- De 10 a 15 locais de comércio saqueados




BM explica proteção a alvos de vandalismo

Motivo de questionamentos ontem em redes sociais, a proteção dada pela Brigada Militar ao prédio do Grupo RBS na Avenida Ipiranga se enquadra dentro de um contexto: a empresa de comunicação, assim como alguns prédios públicos, era um alvo anunciado para sofrer vandalismo durante ou depois do protesto. No local, funcionam Zero Hora, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho.

– Sabemos que cerca de 200 pessoas estavam trabalhando no prédio na hora das manifestações, assim como em outros meios de comunicação. Temos de proteger essas pessoas. É nossa prioridade preservar as vidas – explicou o porta-voz e chefe do setor de Comunicação Social da BM, tenente-coronel Eviltom Pereira Diaz.

O oficial ressaltou que a BM já havia detectado que a RBS é um dos locais visados para depredações. O possível ataque a empresas de comunicação foi inclusive debatido durante encontro realizado pelo Bloco de Lutas em Defesa do Transporte Público. Na noite de terça-feira, conforme relatos colhidos por Zero Hora, alguns militantes do Bloco de Lutas discutiram na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados, no centro da Capital, ações violentas – como depredações – que seriam praticadas por uma minoria extremista.

Vários militantes discursaram ao microfone, defendendo a destruição do prédio de empresas de comunicação. Outros propuseram ataques ao Palácio Piratini (sede do governo estadual) e ao Palácio da Justiça, que chegou a ser vandalizado na segunda-feira por manifestantes.

– Não vamos tolerar depredação, principalmente se já soubermos onde e quando ele está programado para acontecer – disse o tenente-coronel Eviltom.

Eviltom lembrou que outros possíveis alvos também estavam situados na Avenida Ipiranga e por isso a BM agiu. Entre eles, a sede da Polícia Federal (que teve vidros quebrados por vândalos na última segunda-feira) e a sede da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC, que foi depredada em outra ocasião, este ano).

O próprio governador Tarso Genro disse, em entrevista terça-feira, que possíveis alvos de depredação serão protegidos:

– A Brigada vai proteger, sem discriminação, sempre que houver ameaça. Vai proteger o Correio do Povo, a Zero Hora, a sede do PSOL, do PMDB ou de qualquer partido que venha a ser ameaçado.

Manifestantes se reúnem em frente ao prédio da RBS

Por volta das 21h30min, um grupo de cerca de 20 manifestantes pacíficos reunido em frente à sede do grupo RBS, na Avenida Erico Verissimo, reclamou da limitação imposta pela Brigada Militar sobre o avanço do protesto pela Avenida Ipiranga. A interrupção deixou manifestantes, como a corretora de imóveis Eliza Medeiros, revoltados. Segundo ela, a mobilização estava pacífica, sem nenhuma confusão, quando os policiais começaram a intervir:

– Não havia sinal de violência. Foi então que a Tropa de Choque começou a jogar bombas de efeito moral.

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