A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

MILITÂNCIA POLÍTICA É HOSTILIZADA EM SP


ZERO HORA 21 de junho de 2013 | N° 17468

FORA PARTIDOS

RODRIGO LOPES* | ENVIADO ESPECIAL/SÃO PAULO

Manifestantes acusaram ativistas de partidos políticos de esquerda de oportunistas e os dois grupos trocaram socos, empurrões e desaforos durante o protesto de ontem na Avenida Paulista

Em frente ao prédio da Fundação Cásper Líbero, em meio à multidão que ocupava a Avenida Paulista, em São Paulo, o debate se estabeleceu:

– Estamos em uma democracia, mas o movimento é do povo, não pode ter partido político – disse uma jovem, abraçada à bandeira do Brasil.

– Você está sendo fascista. Fascista não foi só o Hitler – reagiu um amigo.

– Mas eles conseguiram tirar o foco da manifestação – contestou a jovem, frustrada com o que via ali adiante.

O debate ordeiro dos estudantes destoava das brigas e agressões que ocorriam perto dali. A ideia era comemorar a suspensão do aumento da tarifa do transporte público, mas as divisões entre grupos, como o Movimento Passe Livre (MPL), e partidos políticos, que também queriam participar da festa, levaram a momentos de tensão. Por volta das 19h, um grupo pequeno de militantes do PSTU apareceu em frente ao Masp. A multidão ficou enfurecida.

– Oportunistas! Oportunistas! – bradavam, com socos no ar.

– Acabou a ditadura – respondiam os militantes partidários.

Hostilizados pela maioria dos manifestantes, os ativistas do PSTU tiveram de recolher as bandeiras. Mas continuaram na marcha. Houve troca de socos e pontapés em diferentes pontos dos três quilômetros da Paulista. Uma bandeira do PT foi queimada, enquanto a polícia acompanhava à distância, sem intervir nas brigas.

A mobilização começou por volta das 18h. O caráter apartidário do movimento que saiu para as ruas de São Paulo nos últimos dias contra a tarifa de ônibus ganhou a adesão de cidadãos comuns, como Freitas, 85 anos. Sua presença entre os manifestantes mais jovens causava curiosidade. Ao longo da Paulista, muitos estudantes queriam tirar uma foto com o aposentado.

– Acharam que o povo aceitava tudo. Esse povo brigou pela democracia não está fazendo o que prometeu – disse.

Na festa da vitória, havia idosos, estudantes e gente que até nem sabia ao certo o que estava fazendo ali. Enquanto os manifestantes marchavam pelos dois lados da Paulista, David, 15 anos, se divertia com a bandeira do Brasil. Ele aproveitava o vento que saía do poço do metrô para fazer o símbolo tremular na posição vertical:

– Isso aqui é muito legal!

A suspensão do aumento da tarifa foi uma vitória. Mas há dias este é apenas o pretexto para sair à rua. Quem estava na Paulista ontem já tinha outras bandeiras: o fim da corrupção, o não à PEC-37 e a renúncia do deputado Marco Feliciano são, para a maioria, os próximos alvos. O grito, que era “vem pra rua, vem, contra o aumento”, mudou para “vem pra rua, vem, contra o governo”. Muitas faixas contra a corrupção e contra governantes eram vistas no meio da multidão que já se formava na Paulista. Até um cartaz de “Sai, Dilma” apareceu entre a multidão.

O protesto de ontem foi o sétimo na capital paulista desde o reajuste das tarifas, no início do mês de junho. O mais tenso ocorreu na última terça-feira, quando um grupo tentou invadir a prefeitura e promoveu uma série de saques e depredações a estabelecimentos comerciais da região central da cidade. Até a madrugada, pelo menos 63 pessoas tinham sido detidas. Ontem, 14 foram liberadas pela Justiça, entre eles quatro estudantes da Universade Mackenzie.

*Com agências

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