Na Câmara, em dia sem votações, deputados se revezaram na tribuna para expor falhas do próprio Congresso. Já senadores reconheceram a dificuldade de interlocução com os manifestantes
POR MARIO COELHO | 19/06/2013 07:30
Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Na segunda-feira, manifestantes ocuparam a marquise do CongressoOs cinco mil manifestantes que ocuparam o gramado, as laterais e até o teto do Congresso motivaram uma série de críticas feitas pelos próprios parlamentares no dia seguinte ao inédito protesto em Brasília. Enquanto deputados subiram um a um à tribuna da Câmara para fazer uma autocrítica dos trabalhos do Legislativo, senadores ponderaram as dificuldades de lidar com um movimento horizontal, sem lideranças óbvias e organizadas via internet.
Após o protesto de aproximadamente cinco horas, o Congresso viu amanhecer com tranquilidade. Servidores terceirizados limpavam o gramado e restauravam o mármore da marquise que serviu de palco para parte do protesto. A segurança já tinha voltado à sua rotina normal. Se não fosse por essas cenas, nem parecia que a sede do Legislativo brasileiro tinha sido alvo de uma manifestação organizada pelas redes sociais.
Com o funcionamento normal, deputados e senadores usaram a tribuna das duas Casas para se manifestar sobre o que aconteceu no dia anterior. Na Câmara, em um dia que a falta de acordo resultou no encerramento da sessão plenária sem votações, muitas críticas ao atual modelo político, à passividade do Legislativo ante o Executivo e discussões entre governistas e oposicionistas. Do outro lado do prédio, senadores tinham uma outra visão. Ressaltavam o movimento, mas apontavam a dificuldade de conversar com líderes e integrantes.
“É importante localizar que nessa mobilização está uma crítica à omissão desta Casa. Este plenário foi invadido por índios pedindo uma legislação que defendesse os seus direitos. Esta é uma Casa que tem votado a favor dos ricos. Está aí a essência da crítica! Aqui e nas assembleias legislativas, tem-se que fazer uma autocrítica de como estão tratando essas questões”, avaliou o deputado Fernando Ferro (PT-PE), ex-líder do partido na Câmara.
Do mesmo partido, o vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS) aumentou o tom da crítica. Disse que muitas vezes o Congresso é pautado por interesses corporativos extremamente localizados. Como exemplo, citou a PEC 37, que torna a investigação criminal exclusiva das polícias judiciárias. “Nós temos sido pautados com muita frequência por pautas de interesses corporativos extremamente localizados, que são legítimas e importantes, mas que não devem ser o centro da pauta do Parlamento brasileiro”, disse.
Puxadinho
As críticas ao trabalho do Legislativo vieram também da oposição. Mas tiveram um viés ligeiramente diferente. Para o líder da minoria, Nilson Leitão (PSDB-MT), o governo federal tem culpa. “Eu ouvi também muitos dizerem que o Congresso é o palco de tudo isso. E é verdade. O Congresso Nacional continua sendo o puxadinho do Planalto — a Oposição não admite isso —, continua sendo pautado pelo Planalto”, afirmou.
Já o líder do PSDB na Casa, Carlos Sampaio (SP), acredita que o momento é de reflexão. Para ele, os deputados precisam ouvir mais do que falar e fazer uma autocrítica. “Em vez de apontarmos o erro do governo federal, de apontarmos os erros dos governos estaduais, façamos uma autocrítica: como é que este Congresso pode ser respeitado por esses jovens se ainda se oculta detrás e debaixo do voto secreto?”, questionou.
Lideranças
Durante a manifestação de segunda, poucos parlamentares estavam no Congresso. Um grupo de senadores tentou conversar com os manifestantes, mas não tiveram sucesso. Eduardo Suplicy (PT-SP), Inácio Arruda (PCdo_B-CE), Paulo Paim (PT-RS) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) pretendiam encontrar com líderes do protesto. No entanto, acabaram desencorajados pela segurança do Senado e desistiram.
“O que nós temos hoje é um movimento – e os jovens assim se autodenominam – em que não há uma liderança única. Existem lideranças múltiplas”, afirmou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Suplicy lembra que a manifestação não foi organizada pelas entidades estudantis tradicionais. “Foi criado por um movimento que se articula nas redes sociais e que se expressa, no momento devido, naquela manifestação vigorosa, sem lideranças tradicionais, com pauta um tanto quanto confusa”, comentou.
Proteção
Durante os discursos nas duas Casas, crescia o movimento fora do Congresso. Mas, ao contrário de segunda-feira (17), não era de manifestantes. Policiais militares desciam de ônibus e paravam na calçada em frente à Alameda dos Estados. Estavam de prontidão no caso de um novo protesto ocorreu. Ele ocorreu, mas com muito menos força do que na segunda. Cerca de 30 jovens estiveram lá.
O suficiente, no entanto, para despertar o receio de deputados e senadores. Hoje, por causa do jogo do Brasil contra o México pela Copa das Confederações, será ponto facultativo na Câmara. No Senado tudo funciona normalmente. Para quinta-feira (20), quando está programada uma nova manifestação, a segurança já está informada, policiais militares requisitados e plano de contingência elaborado. Poucos parlamentares devem estar na cidade no momento do protesto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário