A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

DAS REDES PARA AS RUAS, DAS RUAS PARA AS REDES


ZERO HORA 19 de junho de 2013 | N° 17466


Felipe de Oliveira*



A juventude se reinventa como categoria política e social sob um signo marcante: contra o aumento das passagens. E por que a juventude? Porque é indignada. Resistir é indignar-se, defendia Stéphane Hessel, autor do manifesto Indignai-vos (Editora Leya, 2010), que inspira os movimentos de ocupação global. A juventude resiste ao aumento das tarifas do transporte coletivo no Brasil. Indigna-se. Quer gozar do livre direito de ir e vir. Quer ir para a escola. Quer ir ao cinema, ao teatro ou ao mais remoto parque.

Mas o que tem de novo nessa juventude? É a juventude que vive a era das redes. O passe livre não é um pleito de agora. Historicamente, o movimento estudantil empunhou essa bandeira. É de agora o Facebook; a possibilidade de as pessoas saberem o que está acontecendo em Porto Alegre pelos próprios manifestantes que vão às ruas e conquistam a suspensão do reajuste. Decorre dessa possibilidade outra: a dos manifestantes se articularem em rede.

E, das redes, às ruas. Tem sido assim em todo o país. Manifestações articuladas pelo Facebook que ainda devem levar milhares às avenidas e às praças nos próximos dias. Foi assim também no Exterior, no último fim de semana, quando movimentos solidários ocorreram em Dublin (Irlanda), Berlim (Alemanha), Nova York (EUA), Boston (EUA) e Montreal (Canadá).

A história das mobilizações em rede também não é nova. Remonta à década de 1990. Como exemplo, o Grito dos Excluídos, que reunia movimento sindical, estudantil, trabalhadores do campo... Nova é essa possibilidade de a experiência das ruas se propagar pelas redes sociais. Das ruas, às redes. A amplitude do movimento aumenta. O velho mimeógrafo dá lugar à rede como ferramenta de reprodução. E o movimento se constitui em rede.

O espaço público, o das praças, das avenidas, hoje tem uma extensão. Um espaço de compartilhamento de sonhos, intenções, que leva as pessoas, em rede, às ruas. Para compreender esse processo, é preciso admitir que o espaço público é público. Simples. Nem tão simples é o desafio imposto ao jornalismo como mediador desse espaço público, diante de uma multiplicação de versões, de dar a ver a complexidade dos acontecimentos. É um desafio que exige ponderação, de modo que se faça valer a força do melhor argumento sobre os temas atuais. E que tema mais atual do que o transporte coletivo brasileiro?


*Doutorando em Ciências da Comunicação e especialista em movimentos sociais

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