A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

RUMO AO DESCONHECIDO

zero hora 19 de junho de 2013 | N° 17466

O que nasce dos protestos

HUMBERTO TREZZI

Não é preciso ser profeta para antever movimentos na onda de protestos que sacode a nação brasileira. Afinal, no Oriente Médio eles ocorrem há dois anos e meio e se assemelham a fatos que se repetem no Brasil. Outro exemplo é a Europa, onde são cíclicos – começaram com os grandes levantes dos descendentes de africanos nos subúrbios de Paris, em 2005, e continuaram diante da avassaladora crise econômica. Até por isso, é possível antecipar alguns passos que serão tomados no Brasil, tanto pelos manifestantes quanto pelas autoridades, a partir de postagens nas redes sociais e entrevistas concedidas pelos governantes.


DE PARTE DOS MANIFESTANTES 

A tendência é de que o rol de mais de 58 causas pelas quais lutam os manifestantes se afunile até restarem duas grandes bandeiras: a melhoria do transporte coletivo e o combate aos gastos com as copas (das Confederações e a do Mundo). Veja alguns alvos já traçados pelos ativistas

JOGOS DO BRASIL - O objetivo é protestar em todas as participações do Brasil na Copa das Confederações, que está em pleno andamento. O primeiro ato deve ocorrer hoje, em Fortaleza, no jogo Brasil x México. Caso mantenha fôlego, o movimento pretende fazer o mesmo na Copa do Mundo.

CONTRA A COPA - O grupo V de Vinagre, um dos que combinam manifestações pelo Facebook, inaugurou a campanha “Não venha à Copa!”, destinada a estrangeiros. Há pacotes turísticos vendidos, mas é impossível prever qual será o impacto do apelo dos manifestantes.

GREVE GERAL - A seção brasileira do grupo de ciberativistas Anonymous desencadeou campanha por uma Greve Geral no Brasil em 1º de julho. A ideia é aproveitar os ânimos exaltados para ampliar o impacto.

UNIÃO NA REVOLTA - Os movimentos “Passe livre”, “Copa Pra Quem?” e “Marcha do Vinagre” pretendem, ao contrário do que ocorreu até agora, realizar atos unificados.

NO INTERIOR - A onda de protestos deverá se ampliar esta semana para cidades do interior de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

NO EXTERIOR - A comunidade de brasileiros que vive na Europa, EUA e Oceania está sendo convocada a realizar protestos periódicos contra a Copa e a violência policial, como já ocorreu nos últimos dias.

CONTRA VANDALISMO - Alguns manifestantes prometem filmar e denunciar a ação de vândalos. A intenção é desmascarar tanto radicais quanto possíveis policiais infiltrados.


DE PARTE DOS GOVERNOS

O momento é de recuo. Os prefeitos José Fortunati (Porto Alegre) e Fernando Haddad (São Paulo) já cogitam a redução nas tarifas de transporte. O governador Tarso Genro sugere uma articulação nacional para discutir o transporte coletivo e diálogo com os manifestantes. Veja algumas estratégias

PASSAGENS DE ÔNIBUS - É provável que ocorra uma onda de rebaixamento nas tarifas de transporte público, a partir do anúncio da iniciativa já cogitada em São Paulo e Porto Alegre.
- A redução dos preços seria acompanhada com auditorias em todo o sistema de transporte coletivo, bastante questionado.

OBRAS DA COPA - Elas estão em andamento e não serão paradas. As autoridades podem optar por um jogo semântico, desvinculando as obras dos jogos. Uma tentativa de diluir a má impressão gerada por duvidosos investimentos, como a construção de estádios com dinheiro público. O prefeito José Fortunatti já tomou iniciativa, ao dizer que os projetos da sua gestão não estão mais condicionados à Copa – embora Porto Alegre não tenha estádio construído com dinheiro público.

DIÁLOGO - De Sul a Norte, governantes convocarão os manifestantes ao diálogo. Fazendo isso, pretendem ganhar a simpatia da população. Se os ativistas se negarem a sentar à mesa, poderiam perder apoio. A ideia é estabelecer uma pauta mínima de negociações.

INVESTIGAÇÃO - Os governantes estão decididos a isolar os autores de depredações, na esperança de que os próximos protestos sejam pacíficos. Para isso, a Polícia Civil de cada Estado começou a agir. Dossiês sobre depredadores estão sendo elaborados e é provável que sejam enviados a juízes, com pedido de prisão preventiva dos autores de vandalismo. Poderá ser pedida à Justiça, também, recomendação para que esses manifestantes sejam impedidos de participar de atos públicos.

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