A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

sábado, 22 de junho de 2013

DANOS NO COMÉRCIO E AMEAÇAS DE SAQUE


ZERO HORA 22 de junho de 2013 | N° 17469

O DIA SEGUINTE

Em meio aos protestos no país e em Porto Alegre, comerciantes contabilizam prejuízos e autoridades estão preocupadas com o rumo das manifestações.

O amanhecer em Porto Alegre, ontem, tornou visíveis as cicatrizes deixadas pela ação de uma minoria participante do protesto de quinta-feira. E isso que, ainda de madrugada, 70 funcionários da prefeitura limparam ruas e avenidas. Ao redor dos estabelecimentos depredados por vândalos, porém, os sinais da noite anterior eram evidentes. Conforme a cúpula da segurança pública, houve danos a dois prédios públicos (Polícia Federal e Departamento de Identificação), sete agências bancárias e 25 estabelecimentos comerciais. O cenário de saques e depredações é a principal preocupação de autoridades.

O Sindicato dos Lojistas do Comércio (Sindilojas) calculou o prejuízo em mais de R$ 600 mil. Não entrou aí uma queda estimada em 50% do faturamento do dia com o fechamento antecipado – segundo o presidente da entidade, Ronaldo Sielichow, a maioria deixou de funcionar às 16h:

– O momento é muito sério, e a indignação é grande. O que aconteceu na Azenha é inaceitável, são pequenos lojistas, que pagam altos impostos. Tem gente falando em colocar cães ferozes como guardas e até mesmo pegar em armas para defender o patrimônio.

Na concessionária de motocicletas Honda Estação H, na esquina das avenidas Azenha e Ipiranga, nem os tapumes com mensagens de paz seguraram os vândalos. Conforme a diretora comercial, Adriana Korzenowski, as peças estavam lá para substituir 31 vidraças quebradas na segunda-feira, quando motos foram danificadas.

Na quinta, cinco vidraças ficaram destruídas, e só não houve furtos porque as motos e os computadores tinham sido retirados e havia seguranças no interior. Os 38 funcionários deixaram o local às 16h. Por enquanto, diz Adriana, a loja seguirá com tapumes na fachada “até que as coisas se orientem”.

Também lojista na Azenha, o dono da Freeway Baterias, Antônio Carlos Gonçalves, calcula que o prejuízo possa chegar a R$ 10 mil.

– É uma sensação desagradável. A Brigada poderia ter dado proteção maior. Não entendo o motivo dessa baderna toda – comenta.

Os distúrbios, porém, se alastraram pela João Pessoa e chegaram ao Centro. A descrição de José Pedro de Souza, 58 anos, zelador de um prédio ao lado da agência do banco Itaú, na Avenida Salgado Filho, impressiona:

– Foi um cenário de guerra, fora dos limites. Eles me olhavam e diziam: “deixa o tio”, enquanto quebravam tudo aqui ao lado.

No local, um vigilante mirava, perplexo, os vidros quebrados, mesas reviradas e paredes queimadas. O mesmo olhar foi expresso por Carmen Carvalho, atendente do Banrisul na João Pessoa. Funcionária do banco há 31 anos, ela ficou incrédula com o cenário que encontrou na agência:

– Estou apavorada. Dá vontade de chorar.

O sociólogo Juan Mario Fandino afirma que as autoridades terão dificuldades em sufocar a ação de vândalos que se misturam a manifestantes e praticam saques e depredações. Fandino identifica entre os manifestantes três grupos: um majoritário, formado por pessoas da classe média que se articulam pela internet e rejeitam a parceria de partidos políticos, militantes de esquerda acostumados a protestos e uma minoria sem ética que se infiltra nas passeatas com único propósito de praticar distúrbios.

– Não pertencem a nenhuma comunidade moral, não tem ideologia. Não tem sentimento altruísta, e sim sentimento egoísta, que acaba prejudicando os movimentos sociais.

O comandante-geral da BM, coronel Fábio Duarte Fernandes, afirmou que a prioridade é a preservação da vida:

– Estamos atuando para reprimir saques.

A BM infiltrou agentes entre os manifestantes e organiza dossiês com nomes, fotos e informações sobre o perfil dos arruaceiros.


Incendiar alvos é a estratégia de vândalos

Ao avaliar as ações das forças de segurança durante os protestos de quinta-feira, a cúpula da Segurança Pública revelou, na tarde de ontem, que vândalos haviam programado uma nova estratégia de ataque, a de incendiar alvos. Isso fez com as polícias agissem preventivamente, fechando postos de combustíveis situados no trajeto dos manifestantes e posicionando efetivos do Corpo de Bombeiros próximo a prédios identificados como alvos de grupos.

– Tomamos precauções maiores. Havia alvos definidos e indicativos de que seriam usados instrumentos inflamáveis, com todas consequências que daí possam advir. O rescaldo disso foi aquele estabelecido em prioridade das ações do governo, preservar a integridade física das pessoas – explicou o secretário da Segurança Pública, Airton Michels.

O chefe da segurança pública no Estado ressaltou ainda que a Brigada Militar agiu de forma “absolutamente técnica e coordenada, em ações impecáveis.” Ganhou destaque no balanço das ações a montagem de uma área judiciária integrada para receber os detidos. O espaço reuniu Brigada Militar, Polícia Civil, Defensoria Pública, Ministério Público, Justiça, Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e Samu.

Coube ao comandante-geral da BM, coronel Fábio Duarte Fernandes, revelar detalhes da nova estratégia dos vândalos:

– Devido à integração de inteligências da PM e da Polícia Civil, foi possível identificar ou confirmar a intenção de uma tática que estamos chamando de tática incendiária nacional, que depois se confirmou à noite, com vários episódios de intenção dos depredadores de incendiar vários prédios.

O comandante também deu números: 90 mil pessoas estiveram envolvidas em atividades e manifestações em todo o Estado na quinta-feira, em 36 municípios.

O chefe da Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira Junior, explicou que foi feito o monitoramento de redes sociais e de links que ensinavam a confeccionar e a lançar coquetéis molotov. Ranolfo destacou a operação de buscas em um local onde haveria material para a preparação de artefatos incendiários, além da outros materiais e de uma lista com endereços de órgãos de segurança. A polícia evitou fazer identificação, mas trata-se da sede da Federação Anarquista Gaúcha, na Capital.


Nenhum comentário: