ZERO HORA 22 de junho de 2013 | N° 17469
FIM DO SILÊNCIO
CARLOS ROLLSING
A ascensão da violência nos protestos em parte do país, incluindo Porto Alegre, acendeu a luz de alerta no Palácio Piratini. O governador Tarso Genro e os seus assessores mais próximos avaliam que a democracia brasileira atravessa momento de forte instabilidade devido ao fato de tendências anarco-esquerdistas e de ultradireita, mesmo em minoria, terem tomado à frente das manifestações.
Como resultado, perdem força as reivindicações populares, como a redução da tarifa do ônibus, e se alastram as depredações a prédios públicos e privados, saques de estabelecimentos e declarações de ódio a partidos políticos.
– Está instaurado nesse movimento uma tendência fascista, mesmo que ainda minoritária. É a primeira vez na história que ocorre um movimento de massa sem direção definida. Quando isso ocorre, é natural que skinheads e outros tipos de organizações assumam à frente – avaliou o governador ontem à tarde, no Palácio Piratini.
Tarso também comentou a ação dos anarquistas, em alguns casos aliados à ultraesquerda do PSOL e PSTU:
– Os anarquistas têm influência e controle direto dos atos de vandalismo. Isso já foi identificado pela polícia. São jovens desorientados que caem na marginalidade, entendem que a violência é solução para tudo. Odeiam tudo aquilo que não são eles mesmos. São os introdutores do vírus da violência num movimento que tem enorme respeito social pela pauta generosa que tem apresentado.
Também foram abordadas as conexões dos anarquistas de Porto Alegre com grupos internacionais que compartilham do mesmo ideário. Já foram identificadas trocas de experiências e orientações para enfrentamento com a polícia e produção de explosivos.
– Existe uma doutrina anárquica, radicalmente antidemocrática, que ensina desde fazer escudo até bomba caseira. É uma relação internacional nova, está ocorrendo em vários países europeus e também na América Latina. Isso tem de ser compreendido como uma excrescência democrática – afirmou.
Uma proposta de debate nacional
Tarso ainda pediu a colaboradores políticos a formulação de uma proposta de passe livre para os estudantes em território nacional. Ele pretende levar a ideia para um debate nacional.
– Como governador do Rio Grande do Sul, me coloco à disposição para ser o porta-voz deste movimento pelo passe livre estudantil em nível nacional – afirmou Tarso, após reunião no Piratini com lideranças políticas, sociais e sindicais do Estado.
Esse grupo, junto com representantes do movimento que luta por melhorias no transporte público, auxiliará na formatação da proposta do passe livre.
Tarso também reafirmou a necessidade de o Congresso aprovar a reforma política e o financiamento público de campanha como forma de revigorar o sistema democrático.
– O financiamento privado em campanhas eleitorais é uma forma de viabilizar a corrupção. Quem quer combatê-la deve lutar pela reforma política. Começar a debater a reforma política é um dever de todo democrata – afirmou.
TRÊS IDEIAS: O que Tarso propôs ontem como forma de atender a parte das reivindicações
PASSE LIVRE ESTUDANTIL - Reunido ontem com integrantes do Conselhão, partidos aliados, parlamentares e movimentos sociais, Tarso pediu apoio técnico para a elaboração de uma proposta que ele pretende apresentar nacionalmente de passe livre para os estudantes. O governador afirmou que pretende ser o “porta-voz” desta ideia junto ao país. A intenção é chamar o Movimento Passe Livre, de São Paulo, para ajudar na concepção do projeto. O desafio é apontar a viabilidade econômica da medida.
CANAL DE DENÚNCIAS - Por meio de um decreto que será assinado na próxima semana, Tarso irá criar uma estrutura anexa à Ouvidoria da Secretaria de Segurança para receber especificamente denúncias sobre abusos cometidos pela Brigada Militar e Polícia Civil em qualquer circunstância, seja nas passeatas ou em outras ações de rotina. Além de proporcionar a manifestação presencial, a intenção é criar um canal digital em que as pessoas possam encaminhar queixas sem a necessidade de identificação.
REFORMA POLÍTICA - Tarso reforçou a necessidade de a reforma política ser aprovada no Congresso. O ponto principal, acredita, é o financiamento público de campanha. O método atual, em que doações privadas são admitidas, é avaliado como fonte de corrupção.
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