A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

domingo, 16 de junho de 2013

ELES QUEREM PROTAGONISMO


ZERO HORA 16 de junho de 2013 | N° 17463

SUA SEGURANÇA | Humberto Trezzi


Não se trata apenas de reajuste de tarifas. Mesmo com o rebaixamento do valor das passagens, os jovens que ocupam as ruas das principais cidades brasileiras aspiram mais. Querem protagonismo. Eles não tiveram a oportunidade de gritar contra uma ditadura, nem pretendem tirar do poder algum governante autoritário e corrupto, embora a corrupção continue.

Até por viverem num regime democrático, suas causas são conjunturais e multifatoriais. Pode ser um protesto contra o corte de árvores para ampliar uma via. Ou apoio a índios que ocuparam o entorno do Maracanã, e preconizam a criação de um centro cultural indígena nas imediações do estádio.

Um cartaz da seção brasileira do Anonymous, uma organização de ciberativistas, transformou-se num viral no Facebook e resume o quão heterogênea é a onda de protestos:

– Copa Fifa, R$ 33 bilhões. Olimpíada, R$ 26 bilhões. Corrupção, R$ 50 bilhões. Salário mínimo, R$ 678. E você ainda acha que é por 20 centavos? – critica um manifestante, ao citar os protestos pela redução das tarifas de ônibus.

Aliás, citar o Anonymous é lembrar o papel fundamental das mídias sociais no ativismo contemporâneo. A internet é um catalisador que não existia para as gerações anteriores. Manifestações globais eram raríssimas, e maio de 1968 deve ser lembrado como exceção, impulsionado pela mídia tradicional, não como regra.

Sociólogos de todos os matizes convergem para uma constatação: o Facebook e o Twitter, unidos, fizeram mais pela Primavera Árabe do que as armas convencionais. Não por acaso o ditador líbio Muamar Kadafi, em seus últimos meses no poder, cortou a internet em seu país. Tarde demais. Acabou derrubado de forma sangrenta, mas a rebelião começou no ciberespaço.

Mesmo sem guerras, os protestos se multiplicam. Em palestra no Fronteiras do Pensamento, há poucos dias, o sociólogo espanhol Manuel Castells resumiu a onda de descontentamento que varre o planeta.

– Os novos movimentos sociais são descentralizados, democráticos, horizontais, e não dispostos a ter um programa delimitado, e sim a mudança de todo um status quo. Tais movimentos não têm programa, ou têm tantos que não têm nenhum – resumiu Castells, que trata do assunto no livro Redes de Indignação e Esperança, a ser lançado em setembro.

Simples assim. Complexo assim.

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