A mobilização social é um vigoroso instrumento de defesa de direitos e poderoso para pressionar os Poderes no exercício de seus deveres, obrigações, finalidade pública, observância da supremacia do interesse público, zelo dos recursos públicos e gestão voltada à qualidade de vida do povo. Não existe um futuro promissor para uma nação de cidadãos servis e acomodados que entrega o poder aos legisladores permissivos, a uma justiça leniente e aos governantes negligentes, perdulários e ambiciosos que cobram impostos abusivos, desperdiçam dinheiro público, sonegam saúde, submetem a educação, estimulam a violência, tratam o povo com descaso e favorecem a impunidade dos criminosos.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O PRETEXTO DA REVOLTA


ZERO HORA 17 de junho de 2013 | N° 17464


PAULO SANT’ANA


Por um lado, a vaia estrondosa que a presidenta Dilma levou no estádio em Brasília é inexplicável, por outra parte tem sentido.

É inexplicável porque ela tem a reeleição praticamente assegurada. E como é que é vaiada se é favoritíssima para sua reeleição?

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A outra face da questão é a seguinte: o público que a vaiou estrepitosamente não é o mesmo que vai reelegê-la. Quem vai reelegê-la é o público do Bolsa Família, o extrato pobre da sociedade brasileira.

E o episódio nos faz sentir que quem tem dinheiro para comprar ingresso em Brasil x Japão não vota em Dilma e é a minoria do povo brasileiro.

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De qualquer sorte, o fato se verificou em meio a protestos desvairados em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro sob a aparência de que são originados no preço das passagens de ônibus.

No entanto, há outro fato: esses protestos não têm somente causa no preço das passagens de ônibus. Em Porto Alegre, a Justiça mandou baixar o preço das passagens e isso não impediu os protestos posteriores.

Há, então, um vetor psicológico a empurrar para os protestos. Os brasileiros não querem ficar atrás dos turcos e dos árabes em protestos de rua e de alguma forma demonstram sua insatisfação, seja contra qualquer poder erigido, seja por entenderem que não são contemplados com vida digna e salários compensadores.

Há no ar uma revolta que antes era surda e agora se esparrama pelas ruas corajosamente, enfrentando ora os excessos policiais de violência, ora justificadas intervenções das polícias contra atos de vandalismo.

O fato é que esses movimentos de afronta à ordem ou simples manifestações pacíficas nas ruas estão deixando a todos nós estupefatos.

O que querem e para onde irão nesse cavalo de eletricidade?

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É tão abrangente essa revolta das ruas, que em São Paulo ela atinge tanto o governador Alkmin, que é do PSDB, quanto o prefeito Haddad, que é do PT. É contra tudo e contra todos, não faz distinção de alvos.

Se está no governo, para os protestativos, é adversário, seja de que partido for.

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Mas uma coisa fica agora mais clara: as massas não concordam que os preços das passagens lhes tirem condições melhores de sustento. O dinheiro que gastam com as passagens lhes é retirado dos gastos com comida e com aluguéis. Os governos têm de desonerar imediatamente os impostos que recaem sobre as empresas que transportam passageiros para que as tarifas sejam cada vez mais suportáveis.

Nem o vale-transporte, notável e milagrosa invenção, basta para que as massas se sintam à vontade para sua movimentação urbana.

E são muito caras as passagens no Brasil. Isso que o pretexto para as revoltas nas ruas é o de preço alto nas passagens urbanas, vá-se ver o que custam as passagens para maiores distâncias e a gente se apavorará com esses preços.

Isso vai ter de ser solucionado. Qualquer passagem intermunicipal está nas alturas, sacrificando o povo até o martírio orçamentário.

Isso vai ter de ser solucionado. É um calvário popular inaceitável.

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